Estresse e enfrentamento infantil no contexto do divórcio parental
Roseiro, C. P.,
Paula, K. M. P., & Mancini, C. N. 2020. Estresse e enfrentamento infantil
no contexto do
divórcio parental. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 72 (1),
55-71. doi: 10.36482/1809-5267.ARBP2020v72i2p.55-71
Resenhado por Ariana Moura
É
imperativo que o contexto familiar é configurado como um dos principais
responsáveis pelo desenvolvimento dos sujeitos, de maneira que a sua dinâmica,
recursos e características se tornam fatores de forte influência nos
desdobramentos do ciclo vital, especialmente durante a infância e a
adolescência. A promoção de uma estrutura de apoio sólida e uma dinâmica de
acolhimento e estimulação, já nos primeiros anos de vida, mostra-se essencial
na garantia de um desenvolvimento sadio, o que contribui para o bem-estar do
indivíduo. O divórcio tem sido descrito como um evento estressor que abrange
uma série de mudanças e ajustamentos na vida de todos os membros da família,
aumentando com isso a probabilidade de mal-estar psicológico entre pais e
crianças. Desta maneira, a exposição a contextos caóticos e constantes
episódios de disputa/conflito entre o ex-casal, como forma de relacionamento
pós-divórcio, tende a contribuir incisivamente para o desencadeamento de
estresse em níveis prejudiciais, representando portanto risco ao
desenvolvimento dos filhos.
O
uso de estratégias positivas de enfrentamento pela criança é considerado um
importante fator protetivo que favorece trajetórias desenvolvimentais
adaptativas, assim como o suporte social, a percepção/crença sobre o divórcio
sem autoculpa e os arranjos de guarda facilitadores da convivência do filho com
os genitores. Em conjunto, esses fatores protetivos poderão atenuar os
possíveis efeitos negativos do divórcio e promover o processo de resiliência da
família. O presente estudo tratou-se de uma pesquisa empírica com delineamento descritivo
e correlacional para identificação, análise e relações entre variáveis. A
amostra foi composta por 30 crianças, com idade entre 10 a 12 anos, e seus
pais, os quais responderam a um roteiro de entrevista semiestruturado, bem como
a Escala de Stress Infantil, Escala de Eventos Percebidos para Adolescentes e
Escala de Enfrentamento do Divórcio Parental.
Nos
resultados viu-se que quase 37% dos participantes apresentaram algum nível de
estresse, manifestando principalmente reações psicológicas e psicofisiológicas,
cujos efeitos podem produzir resultados duradouros e prejudiciais ao
desenvolvimento e bem-estar infantil. As fases de Alerta e Resistência, indicaram
a evolução do estresse ao longo do contato com o estressor, mostrando que as
crianças deste estudo provavelmente estavam lidando com a situação de divórcio
parental de maneira intensa e imediata, caminhando para o estabelecimento do
estressor enquanto crônico e reagindo diante das consequências desta nova
realidade. Além disso, os participantes apresentaram reação de tristeza, muito
intensa, nas três situações estressoras específicas do contexto de divórcio
parental (conflito interparental, afastamento de um genitor e problemas
financeiros). Contudo, a situação avaliada como mais ameaçadora foi a de
afastamento de um dos genitores, condição potencialmente angustiante.
Desse
modo, salientou-se que o cuidador (pai ou mãe) pode ser um importante ator na
promoção de estratégias adaptativas para os filhos, reforçando o uso do coping
engajado e desenvolvendo a autoestima da criança para lidar com diferentes
estressores. Os pais, como correguladores, ao proporcionarem um ambiente em que
os filhos se sintam seguros e assistidos podem auxiliar na diminuição do
estresse e na promoção de desfechos de resiliência. Por fim, no campo da
Psicologia da Saúde, este estudo contribui para a atuação dos profissionais da
área, bem como na proposição de programas de atendimento e orientação às
famílias que se encontram na situação de divórcio, indicando práticas mais
protetivas para o desenvolvimento das crianças.
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