Três psicoterapias para a anorexia nervosa: Um ensaio randomizado e controlado
McIntosh, V. V. W., Jordan, J., Carter, F. A., Luty,
S. E., McKenzie, J. M., Bulik, C. M., Frampton, C. M. A., & Joyce, P. R.
(2005). Three psychotherapies for anorexia nervosa: A randomized controlled
trial. The American Journal of
Psychiatry, 162(4), 741-747. https://doi.org/10.1176/appi.ajp.162.4.741
Resenhado
por Michelle Leite
A anorexia nervosa (AN) é uma doença
grave com morbidade substancial e taxa de mortalidade de aproximadamente 5% por
década. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem se estabelecido como
tratamento de escolha para bulimia nervosa e possui algumas evidências de
eficácia para a AN. A terapia interpessoal (TI) também pode ser considerada um
tratamento eficaz nesse grupo, porém promove uma melhora mais lenta em
detrimento da TCC. Em relação a anorexia nervosa, de modo específico, há uma
lacuna na literatura a respeito de ensaios clínicos randomizados que examinaram
a eficácia de tratamentos psicoterápicos. Dessa forma, o presente estudo objetivou
examinar a eficácia da TCC e da TI, comparando-as a um tratamento de controle
denominado manejo clínico de suporte não específico, na AN.
Quanto ao método, participaram do
estudo apenas mulheres, entre 17 e 40 anos, diagnosticadas com anorexia nervosa
primária atual. As terapias aplicadas possuíam fases bem demarcadas, a saber: a
fase 1 da TCC consistiu na introdução da abordagem e seus fundamentos, bem como
se trabalhou a motivação para o tratamento. Na fase 2, o paciente aprendeu
habilidades de reestruturação cognitiva, seguido pela fase 3 que preparou o
paciente para a alta e prevenção de recaídas. A TI inicialmente trabalhou com a
relação entre história de vida, relacionamentos interpessoais e problemas
alimentares, explorando os problemas identificados na segunda fase. Na última
fase, objetivou-se a preparação do paciente para um enfrentamento independente.
Por fim, o tratamento de controle combinava características de manejo clínico (educação,
cuidado e suporte) e promoção da adesão ao tratamento. Além disso, utilizou-se
a psicoterapia de apoio através do uso de reforçadores e aconselhamento.
Os resultados atestaram que, ao
final do tratamento, 9% dos indivíduos tiveram um resultado muito bom, 21%
melhoraram consideravelmente e 70% não completaram o tratamento ou obtiveram
pequenos ou nenhum ganho. Contrariamente às hipóteses, os pacientes que
receberam o tratamento controle (manejo clínico de suporte) tiveram um
resultado tão bom ou melhor do que aqueles tratados com as psicoterapias
especializadas (TCC e TI). A TI foi a menos eficaz das três terapias para o
tratamento da AN. Possíveis explicações para este achado foram a relativa falta
de foco nos sintomas, o tempo curto da terapia e a falta de reatividade dos
sintomas da AN aos gatilhos interpessoais. As razões para os resultados
insatisfatórios da TCC, por sua vez, incluem a grande quantidade de material de
psicoeducação e a extensa aquisição de habilidades, incapacidade de gerar pensamentos
alternativos frente às distorções cognitivas e a natureza egossintônica da AN.
Por fim, o manejo clínico de suporte obteve sucesso nos resultados do
tratamento pois incluiu discussões detalhadas sobre as maneiras de aumentar as
opções e quantidades de alimentos para ganhar peso, um maior senso de autonomia
e controle do paciente, e contou com profissionais especialistas em transtornos
alimentares.
Diante
do resultado não usual, a replicação do estudo utilizando o manejo clínico de
suporte inespecífico como variável de ensaio clínico para AN é necessária. No
entanto, uma abordagem escalonada tem sido defendida no tratamento de
transtornos alimentares e o manejo clínico de suporte não específico pode ser
uma boa primeira fase do tratamento. A Psicologia da Saúde é uma das áreas que
podem auxiliar em tais investigações, uma vez que busca, através de pesquisas
psicológicas, a aplicação de princípios para a melhoria da saúde, prevenção e o
tratamento de doenças como a AN.
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