Sobrecarga em familiares de indivíduos com transtorno obsessivo-compulsivo

Burden in families of individuals with obsessive-compulsive disorder

 

Neto, E. B. S., Teles, J. B. M., & dos Santos Rosa, L. C. (2011). Sobrecarga em familiares de indivíduos com transtorno obsessivo-compulsivo. Archives of Clinical Psychiatry38(2), 47-52.

Resenhado por Millena Bahiano

 

A família, na maioria das vezes, possui o papel de principal cuidadora quando ocorre uma situação de adoecimento físico ou mental em algum familiar. Contudo a falta de preparo e suporte, para lidar com tal situação, pode acarretar uma sobrecarga aos familiares e ocasionar prejuízos em saúde. A sobrecarga familiar, de quem possui um indivíduo diagnosticado com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), tanto pode estar relacionada com a dinâmica do tratamento e assistência prestada quanto pelo estresse ocasionado pelos sintomas da doença e falta de suporte psicológico diante do enfrentamento da doença. Ademais, o envolvimento da família na prestação de cuidados e apoio ao indivíduo com TOC pode favorecer a evolução positiva do quadro clínico e adesão ao tratamento, como também pode ocasionar o agravamento da situação e aumento do desconforto emocional do paciente.

O presente estudo foi realizado no Brasil com 60 participantes. A amostra foi composta por 30 pessoas com TOC em tratamento na rede privada (consultórios psiquiátricos) e na rede pública (Centro de Atenção Psicossocial – CAPS II), além de 30 familiares (um referente a cada indivíduo com TOC). O objetivo foi identificar a sobrecarga em familiares e verificar a existência de diferentes graus de sobrecarga, conforme a rede assistencial utilizada pelo paciente com TOC. Os instrumentos utilizados foram um questionário sociodemográfico e clínico, voltado aos indivíduos com TOC e seus familiares, a Escala de Avaliação da Sobrecarga dos Familiares – FBIS-BR para a investigação dos graus de sobrecarga e o Mini International Neuropsychiatric Interview – MINI para confirmação diagnóstica de TOC e identificação de comorbidades.

Dentre os resultados, observou-se que a amostra dos pacientes com diagnóstico de TOC foi composta em sua maioria por mulheres (56,6%), com idade entre 35 e 40 anos. Viu-se também que houve confirmação diagnóstica do TOC com o uso do MINI e 40% dos pacientes entrevistados foram identificados com comorbidades (16,6% com episódio depressivo maior e 10% com transtorno de ansiedade generalizada). Quanto ao familiar/cuidador a média de idade foi entre 45 e 60 anos e também foi composta em sua maioria por mulheres (80%). Segundo os autores ainda foi possível identificar que a maior sobrecarga objetiva dos familiares (transporte do paciente, comportamentos desconcertantes, alterações nos serviços e rotina da casa, entre outros) estiveram presente na amostra dos pacientes do CAPS.

Já com relação a sobrecarga subjetiva, os maiores graus ocorreram na rede privada indicando maior sentimento de incômodo da família ao prestarem assistência ao paciente com TOC, principalmente no quesito “realização de tarefas de casa”. No estudo os familiares respondentes informaram que, de modo geral, não receberam orientações referentes aos cuidados a serem realizados com o familiar com TOC. Para a Psicologia da Saúde o entendimento destes fatores, apresentados no estudo, tendem a contribuir para a elaboração de estratégias de intervenção mais eficazes e assertivas, no atendimento do paciente e cuidador da pessoa com TOC. Desse modo, a atuação do psicólogo da saúde se faz fundamental na orientação e acompanhamento destes familiares/cuidadores, a fim de minimizar danos psicológicos e em saúde durante a prestação de cuidado, apoio, compreensão da doença e assistência a ser realizada ao familiar com TOC.   



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