Autolesão em mulheres com depressão pós-parto


 Johannsen, B. M., Larsen, J. T., Laursen, T. M., Ayre, K., Howard, L. M., Meltzer-Brody, S. Bech, B. H., & Munk-Olsen, T. (2020). Self-harm in women with postpartum mental disorders. Psychological medicine50(9), 1563-1569. https://doi.org/10.1017/S0033291719001661

 

Resenhado por Luiz Guilherme Lima-Silva.

O primeiro ano de maternidade é um período bastante desafiador para a mãe, pois envolve diversas mudanças em um curto espaço de tempo, a exemplo rotina de sono-vigília do recém-nascido, a amamentação, o retorno aos níveis basais de hormônio antes da gravidez, os cuidados com o bebê e a conciliação com outros aspectos da vida da mulher. Um problema relevante na saúde da mãe nessa fase é o desenvolvimento da depressão pós-parto (DPP), um subtipo do transtorno depressivo que surge alguns dias ou meses após o nascimento da criança. Nesse contexto, foram observados diversos desfechos negativos em mulheres com DPP, como nível elevado de suicídio. É consenso científico que um dos fatores de risco mais significativos para a tentativa de suicídio é o comportamento autolesivo. O artigo objetivou investigar a autolesão em mulheres com DPP, bem como analisar se essa variável está associada ao suicídio nessa população.

O estudo analisou os dados epidemiológicos de cerca de 1,2 milhão de dinamarquesas a partir do seu 15º aniversário até o primeiro internamento por autolesão, registro de óbito ou emigração, ou 31 de dezembro de 2016, sendo a data escolhida a que viesse primeiro. A DPP moderada/severa foi definida como o primeiro contato clínico ou ambulatorial com uma instituição psiquiátrica em até 90 dias após o nascimento da criança.

Dentre as participantes da pesquisa, foram identificadas 1554 mulheres com DPP, sendo que 64 foram hospitalizadas devido a comportamento autolesivo após o diagnóstico. Na subamostra com DPP, a maioria foi diagnosticada com transtorno de ansiedade ou relacionado ao estresse (n = 20; 31,3%), transtorno de humor (n = 18; 28,1%) no pós-parto, transtornos do espectro da esquizofrenia (n = 6; 9,4%), transtornos mentais ou de conduta associados ao puerpério (n = 5; 7,81%) e outros transtornos, como transtorno de personalidade (n = 15; 23,43%). O risco de autolesão em mulheres com DPP foi aproximadamente 6 vezes maior que a população geral sem transtornos mentais. Entretanto, quando comparadas com mulheres sem filhos e mães com transtorno mental fora do período do pós-parto, as que tinham DPP apresentaram menor risco de autolesão. Outro dado importante é que o maior risco de autolesão foi encontrado logo após o diagnóstico de DPP. O risco de suicídio em mulheres com DPP foi maior do que os outros grupos de mulheres com transtornos mentais assim como de mulheres sem filhos.

Mulheres com o diagnóstico de DPP apresentam maior risco de se engajar em comportamentos autolesivos do que aquelas que são mães e não apresentam histórico de diagnóstico psiquiátrico. A Psicologia da Saúde, em seu cerne, busca intervir em situações, como o pós-parto a fim de desenvolver, junto à mulher, estratégias de enfrentamento mais saudáveis, a exemplo de estratégias de habilidades sociais para autorregulação emocional e resolução de problemas. A atuação da psicóloga da saúde é fundamental no puerpério para auxiliar a melhorar o ajustamento psicológico dessa população, visto que o primeiro ano de vida da criança e, sobretudo, os primeiros meses são desafiadores para a mãe.

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