Saúde e bem-estar de mulheres com deficiência física após o parto: Um estudo exploratório
Becker, H., Andrews, E., Walker, L. O., & Phillips, C. S. (2021). Health and well-being among women with physical
disabilities after childbirth: An exploratory study. Women's Health Issues, 31-2,
140-147. https://doi.org/10.1016/j.whi.2020.10.007
O período pós-parto pode ser um momento
desafiador para a maioria das mulheres. Privação de sono, mudanças de humor e
problemas de amamentação são alguns dos fatores que podem ser potencialmente
estressores nesse período. Contudo, quando nos referimos ao período pós-parto
em mulheres com deficiência, cujos desafios do contexto da deficiência já são
presentes eu sua rotina, esse é um tema que tem recebido pouca atenção na
literatura. Os estudos sobre gestação em mulheres com deficiência têm se
concentrado geralmente na maternidade, e não na saúde das próprias mães, mesmo,
recentemente, existirem pesquisas ressaltando os riscos à saúde que elas podem
enfrentar.
O objetivo do estudo em questão foi o de
examinar a saúde pós-parto entre mulheres com deficiências físicas. Para tanto,
foram realizadas entrevistas semiestruturadas com onze novas mães com condições
físicas incapacitantes e feita a análise temática do conteúdo transcrito.
Entre os temas que surgiram estavam
presentes questões como: ‘o preço que teriam que pagar por decidirem ter um
bebê’, ‘a exigência de concentrar-se no bebê’, ‘sentirem-se isoladas’ e ‘terem
desafios sob controle ou superação de barreiras’. Esses temas destacam, entre
outras especificidades, os acréscimos de outras condições e limitações de saúde
que a gestação e o parto ocasionaram às participantes, assim como mudanças terapêuticas
importante de seu autocuidado, como a alteração de medicações que já tomavam, que
tiveram que ser reduzidas ou suprimidas em razão da amamentação. Além disso, embora
a condição de deficiência das participantes já exigisse cuidados próprios de
saúde, como acompanhamentos fisioterápicos, após o nascimento dos bebês elas
mostraram uma tendência a se concentrar nos cuidados com a criança e a negligenciar
seu autocuidado. Esses dados enfatizam a necessidade de rede de suporte
disponível em favor de mães com deficiência e a relevância dessas mudanças como
um tópico a ser discutido e planejado junto com gestantes com deficiência durante
o pré-natal.
Apesar da resiliência em lidar com os
desafios de cuidarem de seus bebês dentro do contexto de suas condições
incapacitantes, as participantes do estudo identificaram claramente a
necessidade de recursos e apoios adicionais. Um desses recursos foi o suporte
de profissionais de saúde para o treino de como segurar seus bebês, adaptando
essa atividade à sua limitação física. Levando
em consideração o contexto da deficiência
e seu impacto social, além de questões culturais e de estigma sobre o direito
reprodutivo de mulheres com deficiência, as pesquisas científicas, os serviços
e profissionais de saúde precisam estar atentos às especificidades da saúde,
reprodutividade e maternidade na condição da deficiência.
Na perspectiva da Psicologia
da Saúde, a compreensão das possíveis adaptações
que serão necessárias e o desenvolvimento de estratégias de solução de
problemas podem ser recursos de ajustamento psicológico a serem promovidos para
futuras mães e, principalmente, para aquelas que terão que fazer maiores
ajustes com a chegada de um bebê em sua rotina, evitando assim o decréscimo de
adoecimento físico e psicológico para mulheres com deficiência no exercício de
seu papel como mães.
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