Preditores de distresse e enfrentamento durante o autoisolamento relacionado à pandemia: a importância relativa dos traços de personalidade e crenças sobre ameaça pessoal
Taylor, S., Paluszek, M. M., Landry, C. A., Rachor, G.
S., & Asmundson, G. (2021). Predictors of distress and coping during
pandemic-related self isolation: The relative importance of personality traits
and beliefs about personal threat. Personality and Individual Differences, 176, 1–6. https://doi.org/
10.1016/j.paid.2021.110779
Resenhado por
Amanda Feitosa
Apesar do autoisolamento
devido à pandemia ser uma medida de proteção essencial contra a Covid-19,
trouxe prejuízos para a saúde mental da população. Nesse sentido, pesquisas
apontam a relevância de certos traços de personalidade para melhor adaptação ao
contexto pandêmico. O presente estudo pretendeu analisar a sua influência em
conjunto com as crenças acerca da ameaça da Covid-19 nos indicadores de
distresse e enfrentamento da população. Para isso, objetivou-se analisar o
efeito significativo de traços de personalidade e de crenças sobre ameaça
pessoal na predição de distresse e enfrentamento na amostra durante o período
de autoisolamento.
A coleta foi
realizada em maio de 2020, com 938 adultos que estavam de forma voluntária em
isolamento (permanecendo em casa o máximo possível e limitando o contato
externo às atividades essenciais). A média de idade foi 52 anos (DP = 16), com 51% da amostra
correspondendo ao gênero feminino. Utilizou-se medidas para avaliar as
dimensões da personalidade com base no Modelo Big Five (Ten Item Personality Inventory - TIPI), assim como para medir as
crenças de ameaça pessoal do vírus (COVID Stress Scales). Estas incluem crenças acerca de preocupações
de consequências econômicas, de contaminar-se, do perigo de disseminação, entre
outros. Também foi usado medidas para acessar otimismo, resiliência e
distresse. O enfrentamento foi mensurado através do uso de equipamento de
proteção individual e o comportamento de estocagem de itens pré-isolamento.
Os resultados
demonstraram que as crenças de ameaça pessoal da Covid-19 foram o principal
preditor de distresse e estratégias de enfrentamento na amostra. Observou-se
que alguns traços de personalidade se associaram ao distresse, por exemplo,
autoisolamento se correlacionou de forma positiva e significativa com
emocionalidade negativa. Contudo, o efeito dos traços de personalidade no
distresse e enfrentamento foi quase nulo quando analisado em conjunto com a COVID Stress Scales. É válido destacar
que os dados deste estudo se referem à primeira onda da Covid-19, no início de
2020, em que os índices de isolamento foram os maiores do período pandêmico. Assim,
de acordo com a literatura, nota-se que as crenças de ameaça são fatores
importantes de sofrimento e estresse relacionado à pandemia.
Para a Psicologia da Saúde, a qual atua
na interface saúde-doença, é importante entender quais variáveis psicológicas
atuam como fatores de proteção no contexto pandêmico. Ademais, dados sobre o
ajustamento psicológico dos indivíduos são úteis para informar aos
profissionais de saúde sobre o impacto de medidas de contenção da pandemia na
saúde mental, identificando fatores de risco e monitorando pessoas que precisam
de serviços psicológicos. Por fim, psicólogos que atuam na área clínica, tendo
em vista o impacto das crenças sobre ameaça pessoal, podem em sua prática focar
no tratamento de crenças disfuncionais sobre o perigo da Covid-19 para reduzir
o estresse e estratégias de enfrentamento desadaptativas.
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