Efeito longitudinal do processamento emocional sobre sintomas psicológicos em mulheres com menos de 50 anos com câncer de mama

 

Martino, M. L., Gargiulo, A., Lemmo, D., Dolce, P., Barberio, D., Abate, V., Avino, F., & Tortoriello, R. (2019). Longitudinal effect of emotional processing on psychological symptoms in women under 50 with breast cancer. Health Psychology Open, 1-9. https://doi.org/10.1177/2055102919844501

Resenhado por Jéssica Dantas

            O câncer de mama é um evento com alto potencial estressor e traumático, que pode superar a capacidade adaptativa dos indivíduos gerando diversos impactos emocionais e físicos. O momento do diagnóstico, a gravidade, o prognóstico, a progressão da doença, a agressividade dos tratamentos e o risco de recorrência são alguns dos fatores estressores associados à doença. O público feminino com idade inferior a 50 anos apresenta maior vulnerabilidade a desfechos traumáticos e ao desenvolvimento de transtorno de estresse pós-traumático quando comparado a mulheres mais velhas. Essa situação decorre do aspecto mais agressivo, letal e destrutivo que geralmente a doença assume no cotidiano e na visão de mundo das mais jovens.

            O processamento emocional (emotional processing, EP) diz respeito à maneira como uma pessoa percebe eventos estressantes e eventos críticos da sua vida, sendo considerado um elemento importante para o ajustamento e adaptação a experiências traumáticas como o câncer de mama. O EP é definido como "um processo pelo qual os distúrbios emocionais são absorvidos e declinam na medida em que outras experiências e comportamentos podem prosseguir sem interrupção"(p.2). O EP consiste na captação do evento seguido de uma avaliação rápida dele e da experiência emocional associada, importante para o processamento emocional e a consciência das emoções e, ao final, culminando em uma expressão apropriada das emoções.

            O presente estudo teve como objetivo analisar a relação entre EP e sintomas psicológicos durante três fases do tratamento (antes da internação, aconselhamento após a cirurgia e terapia adjuvante) em mulheres com câncer de mama com menos de 50 anos. Participaram 50 mulheres em T1 (primeira fase da internação), 24 mulheres em T2 (segunda fase de aconselhamento após a cirurgia) e 15 mulheres em T3 (terapia adjuvante: quimioterapia e/ou radioterapia). Todas responderam ao Questionário Sociodemográfico; ao Questionário de Sintomas (SQ; Kellner, 1987), que avalia os quatro eixos de sintomas de ansiedade, depressão, sintomas somáticos e hostilidade; e a Escala de Processamento Emocional (EPS-25; Baker et al., 2010), que é composta por cinco subescalas: supressão, sinais de emoções não processadas, não regulação das emoções, evitação e experiências emocionais empobrecidas.

            Os resultados apontaram diferenças significativas nos sintomas durante os tratamentos, os níveis de ansiedade diminuíram de T1 para T3 (p = 0,046), já os de hostilidade aumentaram (p < 0,001). Viu-se que o EP era um forte preditor dos sintomas de ansiedade, somáticos, depressão e hostilidade em mulheres com menos de 50 anos de idade, com câncer de mama, em cada fase do tratamento. Portanto, se o EP aumenta, os sintomas também tendem a aumentar. O EP pobre esteve associado a uma progressão mais rápida da doença. Assim, concluiu-se que a utilização de ferramentas que permitam a expressão, o compartilhamento e a contenção das emoções pode ajudar a manter o ajuste psicológico nas diferentes fases do tratamento da doença.

            Este estudo permitiu o conhecimento da especificidade psicológica de cada fase do tratamento da doença, fundamental para o desenvolvimento de intervenções diretivas e eficazes na melhoria do estado de saúde das pacientes. A compreensão dos fatores que influenciam o ajustamento e a adaptação a eventos estressores relacionados ao adoecimento físico, como o câncer de mama, é de extrema importância no âmbito da Psicologia da Saúde.

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