Pandemia de COVID-19 e saúde mental materna: uma revisão sistemática e meta-análise
COVID-19 pandemic and maternal mental health: A
systematic review and meta-analysis
Hessami, K., Romanelli, C., Chiurazzi, M., & Cozzolino,
M. (2020). COVID-19
pandemic and maternal mental health: A systematic review and
meta-analysis. The Journal of Maternal-Fetal & Neonatal Medicine,
1-8. https://doi.org/10.1080/14767058.2020.1843155
Resenhado por Júlia
Nunes
A pandemia da covid-19
trouxe, para além de impactos à saúde física das populações, inúmeros
estressores psicológicos que evidenciaram a urgência de políticas de cuidado em
saúde mental no mundo. Com base nisso, Hessami et al. (2020) reuniram
evidências sobre o impacto da pandemia da covid-19 na saúde mental de mulheres
durante a gravidez e no período perinatal. Por meio de uma revisão sistemática
e meta-análise, eles avaliaram os efeitos da covid-19 nos níveis de ansiedade e
depressão nesse grupo.
A amostra foi escolhida
em razão de que, epidemias anteriores, como a SARS e MERS, terem mostrado que
mulheres grávidas foram mais propensas a serem afetadas psicologicamente. Além disso,
sabe-se que a depressão e a ansiedade afetam uma a cada sete mulheres durante o
período perinatal, com estreita relação com o risco de parto prematuro, redução
do vínculo mãe-bebê e atrasos no desenvolvimento cognitivo/emocional do bebê, os
quais podem persistir na infância. Desse modo, sabe-se que ansiedade, depressão
e estresse durante a gravidez são questões importantes na saúde pública e a
pandemia é um agravante que pode elevar o risco de sofrimento psicológico de grávidas
e parturientes. Foram utilizadas as
bases de dados Medline, EMBASE, Global Health, The Cochrane
Library (Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane
Central Register of Controlled Trials, Cochrane Methodology Register),
Health Technology Assessment Database e Web of Science, sem
limitação de data. Foram
elegíveis artigos em inglês, de desenhos observacional e que avaliaram
depressão e ansiedade por meio das escalas Edinburgh Postnatal Depression
Scale (EPDS) e do State-Trait Anxiety Inventory (STAI),
respectivamente. Os resultados foram analisados usando sínteses narrativas e
meta-análises de efeitos aleatórios.
Após análises dos dados, viu-se que 8
estudos foram selecionados, sendo nenhum deles oriundo da América Latina. O
número total de mulheres incluídas que preencheram os questionários foi de
7750. Dois estudos compararam diferentes grupos de mulheres, um antes da
pandemia versus outro grupo durante a pandemia, e seis estudos avaliaram um
único grupo de mulheres, comparando escores EPDS e IDATE para a mesma população
antes e durante a pandemia. Através dos escores do IDATE,
verificou-se que a ansiedade durante a gravidez e o período perinatal foi
significativamente maior durante a pandemia da covid-19. Já depressão,
apesar de ter aumentado entre as mulheres na gravidez e no período perinatal
durante a pandemia da covid-19, não atingiu um nível estatisticamente
significativo em relação ao período não pandêmico.
O estudo demonstrou que a pandemia da covid-19
representou um fator de risco significativo para sofrimento mental,
especialmente ansiedade, entre mulheres na gravidez ou no período perinatal, e,
portanto, devem ser consideradas medidas de apoio às mulheres durante a
gravidez ou período perinatal para salvaguardar esta população mais suscetível.
Por fim, sabe-se que as repercussões psicológicas de doenças físicas são de
interesse primordial da Psicologia da Saúde. Assim, entender as repercussões da
covid-19 na saúde mental de mulheres é útil para o desenvolvimento de
intervenções e protocolos de cuidado que podem ser realizados por psicólogos da
saúde.
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