Organização de trabalho e problemas de saúde mental em estudantes de doutorado

 Work organization and mental health problems in PhD students

Levecque, K., Anseel, F., Beuckelaer, A., Van der Heyden, J., &Gisle, L. (2017). Work organization and mental health problems in PhD students. Research Policy, 46(4), 868-879.doi: 10.1016/j.respol.2017.02.008 

 Resenhado por GeovannaTurri

Nos últimos anos, a literatura nacional e internacional está cada vez mais preocupada com o impacto potencial das atuais condições de trabalhos acadêmicos na saúde mental, em especial nos estudantes de doutorado. Essas preocupações estão frequentemente relacionadas a mudanças recentes na organização da pesquisa acadêmica, como aumento da carga de trabalho, intensificação e ritmo de mudança, por exemplo. Uma mudança desfavorável no equilíbrio da demanda de oferta de trabalho, uma crescente popularidade de contratos de curto prazo, cortes no orçamento e aumento da concorrência por recursos de pesquisa podem representar uma imagem sombria das carreiras acadêmicas para futuros alunos de doutorado. Embora as universidades já tenham sido tradicionalmente consideradas ambientes de baixo estresse, as pesquisas mais atuais sobre estresse ocupacional em acadêmicos indicam que ele é alarmante e amplamente disseminado. Diante disso, Levecque, Anseel, Beuckelaer, Van der Heyden eGisle(2017) apresentaram três objetivos fundamentais na presente pesquisa.
Em primeiro lugar, eles buscaram avaliar a prevalência de problemas de saúde mental numa amostra representativa de estudantes de doutoradoda Bélgica (n = 3659). Em segundo lugar, compararam os alunos de doutorado com outras três amostras: (1) altamente escolarizado na população em geral (n = 769); (2) funcionários altamente qualificados (n = 592); e (3) estudantes do ensino superior (n = 333). Em terceiro lugar, avaliaram os fatores organizacionais relacionados ao papel dos estudantes de doutorado que preveem o estado de saúde mental. Os autores utilizaram a Escala de Saúde Geral de 12 itens (General Health Questionnaire – GHQ-12) para identificar sofrimento psíquico e possíveis casos detranstornos psiquiátricos (principalmente depressão).
Os resultados mostraram que 32% dos estudantes de doutorado estavam em risco de ter ou desenvolver um transtorno psiquiátrico comum, especialmente depressão. Essa estimativa foi significativamente maior do que as obtidas nos grupos de comparação. As políticas organizacionais foram significativamente associadas à alta prevalência de problemas de saúde mental, especialmente ao que tange as relações de trabalho-família, demandas de emprego e controle de emprego, estilo de liderança do orientador, cultura de tomada de decisão da equipe e percepção de uma carreira fora da universidade estão ligados a problemas de saúde mental.
A pesquisa contribuiu para a área da saúde mental em acadêmicos ao fornecer estimativas empíricas para a prevalência de problemas de saúde mental em estudantes de doutorado e ao estender pesquisas anteriores sobre saúde mentalno setor, considerando bidirecional o conflito entre vida profissional e vida pessoal. Os autores concluíram que é importante adicionar dados sobre perspectivas de carreira futura a uma série deestressores organizacionais encontrados no ambiente de trabalho. Os resultados mostraram que considerar essa bidirecionalidadepode auxiliar a gerenciar os diversos setores da vida, visto que o impacto de ambos (profissional e pessoal) na saúde mental é bem diferente.O presente trabalho revela sua relevância para a Psicologia da Saúde ao especificar a importância de determinados fatores que podem levar ao adoecimento físico e psicológico de doutorandos.

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