Resultados anatômicos e neuropsicológicos de idosos com baixa escolaridade e cognitivamente intactos de uma coorte brasileira


Foss, M. P., Diniz, R. J. B.., Roza, D. L., Gefen, T., Maher, A. C., Formigheri, P., Spedo, C.T.. Salmon, C. E. G., ... (2019). Anatomic and neuropsychologicalfindings in low-educated cognitively intact elderly from a Brazilian cohort. Dementia & Neuropsycholia, 13, 378-385. doi:10.1590/1980-57642018dn13-040003

Resenhado por Danielle Alves Menezes

Conforme a Teoria da Reserva Cognitiva (TRC), sabe-se que maior nível de educação pode atuar como fator protetivo contra neuropatologias que surgem com a idade. Isso ocorre porque acúmulo maior de experiências adquiridas durante a vida promove maior complexo de redes neurais, o qual atua de forma dinâmica para reparar possíveis danos cerebrais com o tempo. A TRC postula que cérebros estruturalmente maiores e com maior densidade neuronal são mais resistentes às alterações cerebrais relacionadas à idade e que essas características cerebrais são menos modificáveis ​​que os fatores socioeducacionais.
Com base nesses pressupostos, o estudo teve como objetivo investigar o desempenho cognitivo e as medidas in vivo do volume cerebral em uma única coorte brasileira composta por 53 idosos cognitivamente intactos, com idade entre 60 e 79 anos, com baixos e altos níveis de escolaridade, pareados por idade e sexo. A amostra foi dividida em um grupo de “menor escolaridade”, composto por indivíduos com média de 3,4 (± 0,9) anos de estudo (n = 33) e um grupo “maior escolaridade”, composto por indivíduos com média de 12,2 (± 1,8) anos de estudos (n = 20), com base na escolarização formal. Os critérios de inclusão foram: ausência de antecedentes de distúrbios neurológicos, distúrbios psiquiátricos, doença renal, alcoolismo crônico (> 3 drinques/dia), delírio clínico, doença cardíaca ou pulmonar, instabilidade endócrino-metabólica (por exemplo, diabetes mellitus), deficiências nutricionais (B12, deficiência de ácido fólico e niacina), anemia e uso de medicamentos psicotrópicos. A versão brasileira da MINI International Neuro-psychiatric Interview, Atividades Katz de Vida Diária, Escala Clinical Dementia Rating (CDR), Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e testes de imagem e laboratoriais foram administrados para caracterizar a inclusão e exclusão. A avaliação neuropsicológica consistiu em sete testes adequados para indivíduos com baixa escolaridade; isto é, testes que não exigem necessariamente habilidades dependentes da formação educacional formal, como cálculo matemático ou conhecimento geral.
Os achados do estudo sugeriram que o baixo nível educacional, associado ao baixo nível socioeconômico, está correlacionado com menor desempenho neuropsicológico na terceira idade. Essa característica do desempenho neuropsicológico não foi explicada por diferenças na integridade estrutural do cérebro, sugerindo que a teoria da reserva cerebral pode não explicar a preservação da função cognitiva entre idosos brasileiros saudáveis. Assim, o nível educacional parece ser um fator mais robusto, contribuindo para diferenças no desempenho neuropsicológico entre os grupos com maior e menor escolarização. Além disso, menor nível educacional não resultou necessariamente em alterações na estrutura cerebral na velhice, mas afetou a cognição. Isso pode contribuir para o entendimento sobre como o nível educacional afeta a morfologia e a cognição do cérebro de maneira diferente, promovendo o debate entre predisposições inerentes versus influências das experiências de vida e do ambiente.
Os dados da pesquisa chamam atenção para o fato de que experiências prévias podem atuar como fatores protetivos de distúrbios neurodegenerativos. Sabe-se que doenças dessa natureza afetam significativamente a adaptação psicológica no envelhecimento. A conclusão do estudo analisado incrementa possibilidades de intervenção no campo da psicologia da saúde, com vistas a reduzir fatores de risco e maximizar possilidades de ajustamento psicológico de idosos.

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.