Alexitimia e suas associações com depressão, suicídio e agressão: Uma visão geral da literatura / Alexithymia and its associations with depression, suicidality, and aggression: An overview of the literature

Hemming, L., Haddock, G., Shaw, J., & Pratt, D. (2019). Alexithymia and its associations with depression, suicidality and aggression: An overview of the literature. Frontiers in psychiatry10, 1-7. doi: 10.3389/fpsyt.2019.00203

Resenhado por Maísa Carvalho

Alexitimia é um fenômeno em que os indivíduos possuem a inabilidade de identificar e descrever seus sentimentos. O construto é derivado da neurociência e não se constitui como uma doença diagnosticada, mas sim como um aspecto clínico que está geralmente associado à outras desordens médicas, como, por exemplo, a depressão, o suicídio e o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Embora o conceito seja aparentemente similar ao de regulação emocional, a alexitimia é mais considerada como uma nuance e um tipo específico de regulação emocional. Este estudo pretendeu resumir o que já foi encontrado na literatura sobre a alexitimia e, mais precisamente, revisar pesquisas que relacionaram o conceito com a depressão, o suicídio e a agressão.
Os critérios diagnósticos básicos da alexitimia são: (a) dificuldade de identificar suas emoções; (b) dificuldade de descrever verbalmente seus sentimentos; (c) redução ou incapacidade de experienciar emoções; (d) estilo cognitivo orientado para o externo e (e) pobre capacidade de fantasiar ou ter pensamentos simbólicos. Na literatura, são considerados dois tipos distintos: primário e secundário. O tipo primário é tido como um traço estável de personalidade, o qual é desenvolvido naturalmente e emerge durante o período da infância ou os períodos iniciais da vida adulta. Em contraste, o tipo secundário postula que a alexitimia não surge ao longo do desenvolvimento, mas pode ser originada em qualquer momento do ciclo vital como consequência de eventos estressantes ou traumas. Feito o diagnóstico, podem ser escrutinadas as origens da alexitimia e classificado o tipo, sendo este um passo importante para guiar o tratamento, em especial psicoterápico.
Ao associar a depressão com a alexitimia, muitos estudos expressam ambos os construtos como correlacionados. Entretanto, ainda não existe um consenso científico quanto a forma de correlação: se a alexitimia predispõe o desenvolvimento de um transtorno depressivo, se é a consequência da depressão, ou se ambos apenas coexistem. No que se refere à sua associação com o suicídio, a literatura aponta que existem maiores evidências de que a alexitimia é mais fortemente relacionada com a ideação suicida. Além da depressão, outros fatores como baixa autoestima e fraco suporte social mediam a relação entre o construto e o suicídio. Quanto à relação com a agressão, os achados são atenuados com as variações de definição usadas para violência – os que tratam a agressão como um traço estável de personalidade ou estado de resposta momentânea. Estudos feitos com populações inerentemente agressivas, tais como agressores sexuais e adolescentes em conflito com a lei, e os também feitos apenas com adolescentes, sugerem forte associação entre a alexitimia e a agressão.
Apesar de se saber que a presença da alexitimia pode afetar a adesão e o crescimento no tratamento de doenças como a depressão, bulimia nervosa, transtorno do pânico e dentre outros, esta é geralmente tratada como um fator secundário e não isoladamente. Ou seja, o tratamento é feito apenas na redução dos sintomas psicopatológicos e não possui efeito direto na alexitimia. Pesquisas apontam que o ensino de inteligência emocional, terapias com base na regulação emocional e abordagens educacionais sobre as emoções podem diminuir os escores do construto. Logo, novos estudos em Psicologia da Saúde podem ser feitos a fim de obter novas evidências a respeito da incidência da alexitimia na população, bem como no desenvolvimento de instrumentos de detecção, formas de tratamento e ferramentas psicoeducativas.

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