Autoeficácia de Cuidadores de Crianças com Transtorno do Espectro Autista
Tabaquim,
M. D. L. M., Vieira, R. G. D. S., Razera, A. P. R., & Ciasca, S. M. (2015).
Autoeficácia de cuidadores de crianças com o transtorno do espectro
autista. Revista Psicopedagogia, 32(99), 285-292.
Resenhado por Daiane Nunes
O Transtorno do Espectro do Autismo
(TEA) faz parte de um grupo de transtornos do neurodesenvolvimento denominado
Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Os TGD compartilham implicações centrais
em duas áreas específicas, a saber: déficits sociais e de comunicação e
presença de comportamentos repetitivos e restritivos. As dificuldades
pertinentes ao transtorno, considerando seu caráter de cronicidade, limitações
físicas e mentais, resultam em uma maior dependência em relação ao cuidador,
papel exercido majoritariamente pelas mães. Essa dependência, por sua vez, pode
ocasionar em níveis mais elevados de estresse, resultando em sobrecarga e
agravos à saúde física e psicossocial.
A autoeficácia é definida como o julgamento
do indivíduo sobre sua habilidade para desempenhar com sucesso um determinado
comportamento. Em outras palavras, refere-se à crença sobre sua capacidade para
mobilizar recursos cognitivos e ações de controle sobre eventos e demandas do
meio. No contexto da parentalidade, evidências apontam que níveis rebaixados de
autoeficácia têm sido associados à baixa persistência, depressão e diminuição
da satisfação quanto ao papel parental. Outros achados apontam que a
autoeficácia parental apresenta uma relação negativa com os problemas
comportamentais das crianças. Diante disso, o objetivo deste estudo foi
identificar a relação do padrão de independência da criança com TEA e o nível
de percepção de autoeficácia do seu cuidador.
A amostra foi constituída por 13
cuidadores de crianças diagnosticadas com TEA, em sua maioria do sexo feminino
(84,6%). Foi utilizado o Índice de Katz de Atividades de Vida Diária que avalia
o nível de independência de pessoas com necessidades especiais e a Escala de
Percepção de Autoeficácia Parental que avalia os comportamentos mais
apresentados por indivíduos com autismo e o quanto os pais e cuidadores
acreditam serem capazes de manejá-los. Este último é constituído por três
dimensões: autoeficácia para obtenção de uma pausa; autoeficácia para responder
a comportamentos inadequados da pessoa cuidada; autoeficácia para controlar
pensamentos negativos sobre o ato de cuidar.
Os resultados demonstraram que os
cuidadores obtiveram níveis moderados de autoeficácia em quase todas as
dimensões, exceto na autoeficácia para obtenção de uma pausa (M = 11,84; DP = 8,53). As pontuações no Índice de Katz (M=11,3; DP = 4,40)
evidenciaram que três crianças eram dependentes, quatro necessitavam de ajuda e
seis eram independentes. A análise de correlação, por sua vez, apontou uma
associação fraca, negativa e não significativa entre os escores da escala de
autoeficácia e da escala de Katz (r =
-0,042; p = 0,893).
Em linhas gerais, os dados demonstram
uma tendência comumente observada em outros estudos quanto ao gênero dos
cuidadores, sobretudo quando se trata do cuidado direcionado à portadores de
necessidades especiais. O estudo apontou para a ausência de correlação do nível
de dependência da criança com TEA e da percepção de autoeficácia do cuidador, sugerindo
limitação e particularidade da amostra, bem como a necessidade de novos estudos
com amostras mais representativas. Nesse sentido, a Psicologia da Saúde pode
contribuir na investigação de como a autoeficácia pode influenciar na adoção e
manutenção de comportamentos protetivos ao adoecimento de cuidadores formais e,
principalmente, informais.
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