Transtorno de compulsão alimentar: revisão sistemática da literatura
Bloc, L.G., Nazareth, A.C. P., Melo, K.S.M., & Moreira,
V. (2019). Transtorno de
compulsão alimentar: revisão sistemática da literatura. Revista Psicologia e Saúde, 11(1),
3-17. doi:
10.20435/pssa.v11i1.617
Resenhado por Ariana Moura
Na quinta
edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) o
Transtorno de Compulsão Alimentar (TCA) se caracteriza pela ingestão, em um
período de duas horas, de uma quantidade de alimentos maior do que outras
pessoas consumiriam em circunstâncias análogas. Durante os episódios de
compulsão, o indivíduo come mais rápido do que o normal até sentir-se
"desconfortavelmente cheio", mesmo não estando fisicamente com fome.
Ademais, são relatados sentimentos de vergonha e culpa devido à quantidade de
comida ingerida, tal como sensação de falta de controle sobre o ato de comer.
O objetivo
do estudo foi descrever e discutir a produção científica sobre a compulsão
alimentar entre os anos de 2006 a 2016. Realizou-se
uma revisão sistemática da literatura de caráter qualitativo e as bases de
dados eletrônicas utilizadas foram: SciELO, Science Direct, Redalyc e Lilacs.
Inicialmente encontraram-se 152 artigos, após a aplicação dos critérios de inclusão
e exclusão restaram 35 artigos para análise final.
O conteúdo dos
artigos foram agrupados em cinco categorias, sendo elas: Caracterização da Compulsão
Alimentar, Sentimentos, Comorbidades, Tratamentos
Indicados para o TCA, Eventos Estressores Anteriores e Percepção da
Imagem Corporal. Na categoria de Caracterização da Compulsão
Alimentar, viu-se que cerca
de 33 estudos caracterizaram o TCA como um transtorno não específico, similar a
Bulimia Nervosa (BN), mas sem a presença de comportamentos que evitariam o
ganho de peso, o que demonstrou o peso valorativo do discurso oriundo do
DSM. Já na categoria Sentimentos observaram-se relatos de pessoas com TCA que sentiram culpa,
desgosto e depressão após os episódios.
Na categoria de Comorbidades
verificou-se que os artigos tiveram
como foco a população feminina e buscavam avaliar hormônios do apetite,
percepção de imagem corporal, comportamento sexual, impulsividade e a
prevalência do TCA. A categoria Tratamentos
Indicados para o TCA demonstrou, dentre outros tratamentos, a Entrevista Motivacional (EM), que objetivou auxiliar nos processos de
mudança de adicções. Quanto a categoria Eventos
Estressores Anteriores viu-se que
situações estressoras poderiam ter relação com o início de comportamentos
alimentares irregulares e que existem situações específicas que poderiam
preceder os quadros psicopatológicos. Dentre estas, o término de
relacionamentos amorosos, a morte de pessoas próximas e problemas financeiros. A categoria de Percepção da
Imagem Corporal mostrou que a preocupação
com o ideal de corpo saudável e as tentativas de seguir padrões de beleza,
impostos pela sociedade, poderiam contribuir para o início e manutenção de TA.
A maioria dos artigos partiu de um
viés biomédico do transtorno, tendo como referência principal o DSM-IV e o
DSM-5. Os resultados sugeriram, de forma geral, a consideração do TCA em termos
de aspectos objetivos (aumento do peso, mudança no comportamento alimentar e
problemas de saúde) e subjetivos (sentimentos e história de vida). Isto contribui
para a caracterização de um transtorno alimentar complexo, multifacetado e que
não produz somente efeitos no corpo, mas também acentuado sofrimento que
reflete no corpo.
Finalmente,
os resultados encontrados nesta revisão fornecem aos psicólogos da saúde base
para pensar novas abordagens na prevenção e no tratamento do TCA, além de
sugerir possibilidades para futuras pesquisas.
Nenhum comentário: