Super-heróis como recursos para promoção de resiliência em crianças e adolescentes
Weschenfelder, G. V., Fradkin, C., & Yunes, M. A. M.
(2017). Super-heróis
como recursos para promoção de resiliência em crianças e adolescentes. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 33, 1-8. doi:
10.1590/0102.3772e33425
Resenhado por Mariana Menezes
As
histórias em quadrinhos (HQs) de super-heróis não se restringem ao
entretenimento, pois essas histórias abordam algumas questões de suma
importância enfrentadas no cotidiano de pessoas. Tais questões estão ligadas à
superação de adversidades, construção de identidade pessoal, elementos de
ética, moral, justiça, enfrentamento de medos, de situações de violência, entre
outros. Em todo o mundo, inclusive no Brasil, muitas pessoas vivem em condições
desfavoráveis. Crianças e adolescentes constituem um grupo fragilizado da
população brasileira, sendo que muitos são vítimas de negligência (76,35%),
violência psicológica (47,76%), violência física (42,66%) e violência sexual
(21,90%). Crianças e adolescentes em situação de risco psicossocial podem estar
mais vulneráveis a apresentar comportamentos com consequências negativas na
vida adulta. Sem a intervenção adequada, os resultados, como baixa autoestima,
tendências suicidas, uso de substâncias e comportamento sexual de risco podem
se agravar ao longo da adolescência e perdurar na idade adulta.
Diante
disso, a pesquisa de Weschenfelder, Fradkin e
Yunes (2017) analisou uma amostra de 20 super-heróis de maior
visibilidade na cultura pop e conduziu uma indexação detalhada a fim de fazer um
levantamento analítico das relações entre adversidades da vida ficcional de
personagens super-heróis e adversidades citadas na vida real de crianças desfavorecidas
psicossocialmente.
Nos
resultados, verificou-se que todos os super-heróis passaram por adversidades
similares aos grupos de crianças em risco, tais como: violência doméstica, orfandade
(Homem-Aranha, Superman, Batman), abandono pela família (Hulk, Superman, Viúva
Negra), assassinato de parentes (Homem-Aranha, Batman), pobreza ou limitações
econômicas (Capitão América, Homem-Aranha) e bullying (Homem-Aranha, Capitão
América). Foram detectadas ainda adversidades isoladas: ser portador de
deficiências como cegueira, ter a mãe estuprada pelo padrasto e ter atividade
no crime. A análise dos achados evidencia que os personagens sofriam não apenas
com uma situação de risco, mas com mais de uma ao mesmo tempo, assim como
muitas crianças e adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade
social.
Em
muitas histórias, as adversidades enfrentadas pelos super-heróis parecem fazer
com que eles se desenvolvam diferentemente após o trauma sofrido. Essa dimensão
teórica possibilita considerar que o personagem super-herói pode ser um modelo
de resiliência, pois ele se transforma e se torna habilidoso para superar as
suas adversidades. Para profissionais que trabalham com crianças menos
favorecidas socialmente, a história comum existente entre os super-heróis e a
vida da criança em risco pode ser utilizada para informar à criança que ela não
é a única e tão somente uma vítima e que esses personagens lutaram com os
mesmos problemas pelos quais muitas delas vivenciaram ou convivem. Para essas crianças,
esse conhecimento pode reduzir a sensação de isolamento e impotência e criar um
sentimento de desejo de fazer parte de uma comunidade de fortes e vencedores. Desta
forma, os personagens das HQs podem, assim, vir a ser modelos inspiradores de superação
e de resiliência.
Portanto,
esta pesquisa conversa diretamente com a Psicologia da saúde,
uma vez que o recurso de utilizar personagens de HQS como exemplo para crianças
que enfrentam dificuldades semelhantes apresenta potencial para ser
desenvolvido em intervenções psicoeducacionais e subsidiar políticas públicas
para a promoção de resiliência nessa população.
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