Transtornos por uso de substâncias psicoativas e esquemas iniciais desadaptativos: Revisão sistemática de literatura
Rocha,
I. C. O., Lopes, E. J., & Lopes, R. F. F. (2019). Transtornos por uso de
substâncias psicoativas e esquemas iniciais desadaptativos: Revisão sistemática
de literatura. Revista Brasileira de
Terapia Comportamental e Cognitiva, 11(1), 76-94.
Resenhado por
Renata Elly
O consumo de substâncias psicoativas é disseminado em todas
as classes sociais, faixas etárias e culturas. Segundo dados do Escritório das
Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, 2018), aproximadamente 31 milhões de
pessoas fazem uso de drogas de forma problemática e apresentam transtornos
relacionados ao consumo de substâncias, incluindo a dependência. O DSM-V define
o transtorno por uso de substâncias (TUS) como um agrupamento de sintomas
cognitivos, comportamentais e fisiológicos relacionados ao uso contínuo de
substâncias apesar de problemas significativos, com graves consequências
sociais e clínicas.
A dependência de substâncias deve ser compreendida de modo
multidimensional e integrativo, incluindo aspectos biológicos, psíquicos,
sociais e ambientais, por isso é considerado de difícil tratamento. As terapias
cognitivas e comportamentais apresentam claras evidências de que a compreensão
de comportamentos e cognições disfuncionais é relevante, sendo a TCC o modelo
de terapia mais amplamente utilizado.
Uma das abordagens estudadas nesse contexto é a Terapia do
Esquema (TE), onde a partir de esquemas o indivíduo seleciona e elabora
informações do ambiente para interpretar e atribuir significado aos eventos.
Alguns esquemas se desenvolvem como resultado de experiências nocivas na
infância, chamados de esquemas iniciais desadaptativos (EIDs), levando os indivíduos
a criarem na vida adulta as condições de infância que lhe foram mais
prejudiciais. Diversos autores propõem que, em resposta a esses esquemas,
muitas pessoas desenvolvem mecanismos de enfrentamentos desadaptativos, como o
abuso de álcool e outras drogas.
O presente estudo investiga, a partir de uma revisão de
literatura, quais componentes cognitivos e comportamentais estão envolvidos no
comportamento aditivo. Foi observado um significativo número de estudos que
relacionam os EIDs à possível manutenção do TUS, porém não se pode concluir que
haja, na literatura, um padrão de EIDs que caracterize essa população, uma vez
que, os achados indicam EIDS distintos. No entanto, alguns esquemas como
“autocontrole/autodisciplina”, “desconfiança/abuso”, “autossacrifício” são os
que frequentemente apresentam escores mais elevados. Foram encontrados poucos
estudos que avaliassem a eficácia da Terapia do Esquema, sendo mais comumente
identificada no tratamento de transtornos de personalidade. Ball (2007) indicou
que a identificação e modificação das EIDS resultaram em uma diminuição mais
rápida no uso de substâncias do que a teoria tradicional dos 12 passos. Porém,
é importante salientar que pela dificuldade do tratamento da dependência
química, dificilmente um modelo único de intervenção será suficiente.
Portanto, é necessário o desenvolvimento de pesquisas que
investiguem a relação dos EIDS e o abuso de substâncias. A psicologia da saúde
pode contribuir na possibilidade da identificação de estratégias mais eficazes
de prevenção e tratamento.
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