Tornar-se família de uma criança com transtorno do espectro autista
Machado, M. S., Londero, A. D., & Pereira, C. R.R.
(2018). Tornar-se família de uma criança com transtorno do espectro autista. Contextos Clínicos, 11(3), 335-350. Doi:10.4013/ctc.2018.113.05
Resenhado por Márcio Diego Reis
O Transtorno
do Espectro Autista (TEA) corresponde a um transtorno do neurodesenvolvimento,
o qual se manifesta precocemente e acarreta prejuízos ao funcionamento social
do indivíduo acometido. As características do autismo são peculiares e afetam o
modo de viver da criança, tornando-a dependente dos cuidadores. Os pais podem
vivenciar um processo doloroso de luto pela perda da criança imaginada, em que
sentimentos depressivos como dor e negação são comuns. Estudos destacam mudanças
significativas nas atividades diárias das famílias de crianças autistas,
indicando a sobrecarga emocional, física e financeira, além do estresse e das
incertezas em relação ao futuro dos filhos, exigindo dos familiares uma
constante adaptação como forma de lidarem com os desafios geradores de estresse.
O presente estudo objetivou refletir
sobre o tornar-se família de uma criança com TEA e busca, especificamente, o
conhecimento das vicissitudes do transtorno no contexto familiar, das
características e das perspectivas futuras dos cuidadores. Além disso, busca
compreender como estas se reconhecem e organizam nesse contexto, a fim de se
constituírem e desenvolverem enquanto famílias de uma criança com necessidades
especiais. Participaram do estudo, uma pesquisa com delineamento transversal e
exploratório de abordagem qualitativa, 7 familiares de crianças diagnosticadas com
TEA, sendo representantes de três diferentes famílias que frequentavam o Centro
de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) de uma cidade do interior do Rio
Grande do Sul. As crianças possuíam entre 5 e 6 anos. Foi realizado um grupo
focal e três entrevistas individuais de caráter semiestruturado. Os dados
coletados nas entrevistas foram analisados através da Análise de Conteúdo.
A partir da análise realizada, foi
possível evidenciar que as famílias participantes começaram a notar atrasos no
desenvolvimento da criança tardiamente, além de receberem o resultado do
diagnóstico como um momento de desespero, tristeza e desamparo. Além disso, as
dificuldades relacionadas ao transtorno tornaram necessárias algumas alterações
na rotina dos membros da família, principalmente no âmbito do trabalho para as
mulheres. No que tange às relações entre os membros da família, o estudo
revelou que elas tiveram que se unir ainda mais frente à problemática da
criança, ocasionando afastamento do convívio social ao centrar-se na criança. Os
familiares relataram falta de apoio relacionada à família extensa, a qual não
parecia compreender as demandas da família e da criança. O estudo mostrou que
preocupações com o futuro da família e da criança com TEA são recorrentes e
inevitáveis aos familiares participantes, gerando medo e ansiedade.
Concluiu-se, a partir do estudo, que
o diagnóstico de TEA repercute significativamente na dinâmica familiar,
demandando alterações na rotina e nas relações familiares. Nesse sentido, para
a Psicologia da Saúde, trabalhos como este, fornecem
base para pensar novas abordagens no tratamento do TEA, além de sugerir
possibilidades para futuras pesquisas.
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