Dialogando sobre a morte como forma de prevenção do luto mal elaborado
Dialoging about death as a prevention for evil fighting
Rocha, A. P., Fonsêca, L. C., & Sales, R. L. (2019). Dialogando sobre a morte como forma de prevenção do luto mal elaborado. Revista Psicologia & Saberes, v.8, n.12, 2019 doi:10.3333/rps.v8i12.1054
Resenhado por Márcio Diego Reis
Apesar
de saber que ocorrerá para todos, a maior parte das pessoas não vê a
morte como algo natural. Para alguns, falar sobre a morte pode atraí-la,
sendo considerada um tabu. Essa ocultação sobre o tema faz refletir sobre a formação e a prática dos profissionais da saúde, em especial do
psicólogo, diante do cenário do luto. A morte é algo difícil de falar
em nossa cultura, justamente pela inquietação, medo e ansiedade que dela
suscita. Entretanto, é um processo natural e o que nos torna diferente
de outros seres é a nossa consciência sobre a finitude.
O
luto é um conjunto de reações decorrente de uma perda e, portanto, deve
ser acompanhado em razão da saúde emocional do sujeito. A relação de
vínculo entre o enlutado e o falecido, o tipo de morte, a religiosidade e as redes de apoio emocional e social, são alguns dos fatores considerados determinantes no processo de luto, que devem ser valorizados e acompanhados. O
objetivo deste trabalho foi dialogar sobre a morte iminente como forma
de prevenção de um luto mal elaborado, considerando que existem formas
menos dolorosas e mais tranquilas de vivenciar esse momento inerente a
existência humana.
Para Kluber-Ross (2008),
um dos aspectos que impede o sujeito de falar sobre a morte, é a
incapacidade psicológica que ele tem de conceber a própria morte, ou
seja, ele reconhece que o outro morre, porém não concebe sua própria
finitude. Dialogar sobre este tema é uma carência social, visto que sua
ausência incide em consequências desastrosas, o que pode ser observado
em algumas áreas que requer manejo adequado no trato com o ser o humano. Faz-se necessário que os profissionais sejam capacitados para acolher esse sofrimento.
O ponto de partida pode ser “naturalizando” gradualmente, através do diálogo franco e sem estigmas com crianças, vizinhos, amigos, parentes, etc. Conversar de forma espontânea a respeito da morte leva o indivíduo a se perceber e, de certa forma, aceitar que não é infinito, compreendendo que a evitação não o tornará imune à morte. A partir daí, novas condutas podem surgir para facilitar o processo de luto, diante da compreensão que a morte é um processo natural.
Algumas
culturas até conseguem visualizar o lado positivo desse momento final,
no entanto, o que prevalece é a negligência diante do sofrimento dos
enlutados. Esse tipo de negligência pode levá-los ao luto patológico ou
até a depressão. Por isso, há uma necessidade de dialogar amplamente
para que este assunto deixe de ser um tabu e passe a ser naturalizado
entre os indivíduos.
Nesse contexto, o psicólogo também possui uma relevância crucial. Deve proporcionar ao enlutado um espaço no qual ele possa expressar o que sente, além de oferecer uma escuta cuidadosa,
acolher seu sofrimento e principalmente, mostrar que a dor que sente é
totalmente legítima e autorizada. É importante estar atento à forma com
que cada enlutado reage a essa ruptura, considerando que as reações
variam de acordo com a pessoa e o grau de afetividade com o falecido. O
psicólogo pode e deve ser um facilitador do processo de luto, seja no contexto hospitalar por meio dos cuidados paliativos ou no contexto clínico.
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