Terminalidade, Morte e Luto na Pandemia de COVID-19: Demandas Psicológicas Emergentes e Implicações Práticas

Crepaldi, M. A., Schmidt, B., Noal, D. d., Bolze, S. D., & Gabarra, L. M. (15 de Maio de 2020). Terminalidade, Morte e Luto na Pandemia de COVID-19: Demandas Psicológicas. Brasil. 
Postado por Giulia
  
Condições de distanciamento social foram impostas após início da pandemia do novo coronavírus devido à preocupação e incerteza com relação à disponibilidade de recursos proporcionais às crescentes demandas por serviços de saúde, numa tentativa de conter a rápida escalada da doença. Consequentemente, impactos profundos estão serão gerados, causando uma crise socioeconômica e psicológica, de modo que a saúde mental na população geral e nos profissionais de saúde tem sido amplamente afetada. Tal desencadeamento se deve às rápidas alterações cognitivas, emocionais e comportamentais característica do período, atreladas à imprevisibilidade do futuro e a diminuição do contato humano. 
Em face dessas mudanças, o processo de terminalidade e morte também tem sido afetado, pois se tornam mais complexas as realizações de rituais de despedida, o que dificulta a experiência de luto. Assim é evidenciada a necessidade de intervenções psicológicas durante e após a pandemia, uma vez que as implicações emocionais e cognitivas provocadas pela COVID-19 podem ser mais duradouras que a própria doença.  
Sem interações face a face com a rede socioafetiva e com o medo de haver mais membros da família infectados, os rituais de despedida tendem a ser seriamente comprometidos, agravando o impacto psicológico e prejudicando a elaboração de sentido para a perda, deixando as famílias desamparadas. Além disso, os corpos de pessoas mortas pelo vírus devem ser lacrados em caixões sem qualquer limpeza ou preparação para homenagens fúnebres, rompendo com as convenções culturais e religiosas desses rituais e gerando culpa e sensação de negligência nos familiares. 
O luto é um processo saudável de adaptação às perdas e sua dificultação pode acarretar em intensificação do sofrimento, sentimento de sobrecarga e engajamento em comportamentos desadaptativos prejudiciais. Alguns dos fatores de risco que podem levar à essas complicações são: local e condição da morte, perda de mais de uma pessoa próxima, fragilidade de apoio da rede socioafetiva, não realização de ritual funerário em conformidade com práticas culturais e religiosas e sentimento de culpa. 
Nesse contexto, adaptações estão sendo realizadas em diversos países de modo a facilitar o processamento do luto frente às restrições enfrentadas, algumas delas são: expressão de sentimentos de luto nas redes sociais, celebrações religiosas virtuais e realização de rituais individuais.  Apesar de não substituírem as práticas tradicionais, essas são opções que podem auxiliar na resolução do luto, pois oferecem oportunidades emocionais e cognitivas para lidar com a perda. 
Diante desse cenário, psicólogosm se mostrado de grande relevância, explorando a compreensão do quadro da doença e os desejos e condições emocionais tanto do paciente, quanto das pessoas mais próximas a ele para a realização de um ritual de despedida. O apoio psicológico também ameniza os obstáculos relativos à elaboração da morte diante das restrições da pandemia e auxilia no manejo das situações desafiadoras por eles geradas. Além disso, o acompanhamento pós-luto realizado por psicólogos é altamente recomendado, para que sejam feitas as devidas orientações e encaminhamentos, bem como oferecimento de suporte emocional.

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