Características psicológicas associadas à hesitação da vacina e à resistência à vacina de Covid-19
Murphy, J., Vallières, F.,
Bentall, R. P., Shevlin, M., McBride, O., Hartman, T. K., McKay, R., Bennett,
K., Mason, L., Gibson-Miller, J., Levita, L., Martinez, A. P., Stocks, T. V.
A., Karatzias, T., & Hyland, P. (2021). Psychological characteristics
associated with COVID-19 vaccine hesitancy and resistance in Ireland and the
United Kingdom. Nature
Communications, 12(1),
29. https://doi.org/10.1038/s41467-020-20226-9
Resenhado por
Luiz Fernando de Andrade Melo
Na Europa houve um número significativo
de pessoas hesitantes ou resistentes para se vacinarem contra a Covid-19, o que
exigiu o entendimento sobre quais problemas estão ligados a tais comportamentos.
Parte dessa recusa ou indecisão em se vacinar está associada com crenças
religiosas, conspiratórias ou paranoicas, desconfiança do governo, de
cientistas e até de profissionais da saúde. Existem fatores psicológicos que
também podem estar relacionados com a não-vacinação como traços de
personalidade, crenças, emoções e mecanismos cognitivos. Este estudo buscou
analisar diferentes características entre a população da Irlanda e do Reino
Unido que estivessem correlacionadas com atitudes de não-vacinação.
Verificou-se o perfil sociodemográfico bem como fatores políticos e de saúde,
características psicológicas e o nível de confiança com meios de informações
entre aqueles que aceitavam e que não aceitavam a vacina contra a Covid-19.
Para a pesquisa utilizou-se os dados de
1041 participantes da Irlanda e de 2025 do Reino Unido entre os meses de março
e abril de 2020. Os respondentes preencheram informações sociodemográficas,
indicadores de saúde e psicológicos. As características psicológicas
pesquisadas foram lócus de controle, através da Locus of Control Scale - LoC,
raciocínio analítico ou reflexivo, com o Cognitive Reflection Task - CRT,
altruísmo, por meio da Identification with all Humanity scale - IWAH,
crenças conspiratórias, com o uso da Conspiracy Mentality Scale – CMS.
Ademais, utilizou-se a Persecution and Deservedness Scale – PaDS para
analisar a paranoia, a Monotheist and Atheis Beliefs Scale para estudo
das crenças religiosas, a Very Short Authoritarianism Scale – VSA para
verificar traços de autoritarismo, a Social Dominance Scale – SDO7 para
os níveis de domínio social, o Britsih Social Attitudes Survey 2015 para
atitudes relativas à migrantes e o Big-Five Inventory – BFI-10
para traços de personalidade. A análise de dados foi feita por meio de
regressões logísticas multinomiais.
Os resultados demonstraram que quem
compõe os grupos de hesitação ou de resistência à vacinação são indivíduos que
tem como características psicológicas: baixos níveis de confiança em
cientistas, profissionais de saúde e no Estado, mais atitudes negativas em
relação à migrantes, baixa reflexão cognitiva, baixos níveis de altruísmo e do
traço de amabilidade e de conscienciosidade, altos níveis de domínio social,
autoritarismo, crenças religiosas e conspiratórias, lócus de controle interno e
do traço de neuroticismo. Algumas dessas características foram prevalentes na
Irlanda, enquanto outras no Reino Unido, mas em geral a maioria se encontra nos
resultados de ambos os países.
Essas caraterísticas permitem entender
qual o público que tem menor chances de aderir a campanhas de vacinação,
especialmente quando se compreende que os motivos da hesitação e da resistência
podem estar associados a crenças rígidas ligadas a religião ou conspiração.
Além disso, é possível verificar como o nível de confiança em autoridades como
cientistas e o Estado bem como traços de personalidade interferem na adesão de
comportamentos de saúde tal como é a vacinação. Nesse sentido, é possível
elaborar estratégias mais eficazes que se direcionem a pessoas com tais perfis,
interferindo nos fatores psicológicos descritos anteriormente de modo a
propiciar melhor adesão à vacina. Alguns exemplos são utilizar autoridades
religiosas para incentivo à vacinação ou criar ações governamentais mais
transparentes no âmbito da saúde a fim de diminuir a desconfiança da população.
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