Hesitação à vacina de Covid-19 para crianças no Brasil
Campos, L. A. M., de Santana, C. M. L., da Silva, C. M., de
Moraes, F. X., Domingos, L. F., Pereira, D. B. A., ... & de Souza Torres,
M. (2022). Hesitação à vacina de COVID-19 para crianças no Brasil. Cadernos
de Psicologia, 13-13. https://doi.org/10.9788/CP2022.2-15
Resenhado por
Maria Heloísa
A emergência na saúde pública, iniciada
em 2020 em virtude do novo coronavírus, foi um cenário que desencadeou a
necessidade das pessoas de lidar com a imprevisibilidade. Para o controle da situação,
foram desenvolvidas vacinas que previnem ou atenuam os quadros clínicos mais
severos da Covid-19. Frente ao cenário de crise, algumas pessoas demostraram
hesitação em vacinar-se, isto é, relutância ou recusa à vacina, fator que
constitui uma ameaça ao enfrentamento da pandemia. A recusa pode ocorrer em
virtude da acessibilidade do recurso e da ausência de confiança ou conhecimento
sobre seus benefícios, eficácia e necessidade. Quando se trata da vacinação de crianças,
viu-se a hesitação e o atraso na tomada de decisões sobre a proteção do
público. Diante disso, o objetivo do estudo foi analisar como a percepção de
riscos e benefícios afeta a tomada de decisão parental sobre a vacinação de
crianças.
Trata-se de uma pesquisa exploratória
cujos dados foram coletados online entre os meses de junho a dezembro de 2021. Foi
aplicada a Escala de Hesitação à Vacina (EHV) e um questionário
sociodemográfico com questões que abrangem as informações pessoais dos pais,
hábitos de vacinação própria e dos seus filhos e crenças em relação à Covid. O
critério de inclusão adotado foi a idade superior a 18 anos e a disponibilidade
de participar do estudo online. A amostra total foi constituída por 293 pessoas
que residiam em 17 estados brasileiros. Considerou-se variáveis de gênero,
escolaridade e moradia compartilhada com o filho.
As análises estatísticas e descritivas
do estudo permitiram a identificação da relação entre os fatores que estão envolvidos
com a decisão de vacinar os filhos contra a Covid-19 na amostra, sobretudo no
que se refere ao comportamento de aceitação e hesitação. A partir dos resultados,
não foram encontrados efeitos significativos entre o gênero e as variáveis
benefício da vacina e intenção de vacinar ou não a criança. Também se identificou
que residir com o filho não resultou em efeitos sobre o benefício da vacina, a
percepção de risco e a intenção de vacinação do menor. Além disso, o fator
escolaridade e a intenção de vacinação não estiveram relacionados à disposição
de vacinar os filhos contra a Covid-19. Em contrapartida, foi encontrada relação
positiva entre a percepção de benefício e a intenção de vacinar o filho e uma
correlação negativa entre a percepção de risco e a intenção de vacinar a
criança. Diante disso, entende-se que, na amostra desta pesquisa, há maior
possibilidade dos pais vacinarem as crianças quando a percepção de risco da
vacina é diminuída e a valorização de seus benefícios é aumentada.
Dados os achados da pesquisa, entende-se
que esta pesquisa é importante para a Psicologia da saúde, já que investigar o comportamento parental perante à vacina
da Covid-19 é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas focadas
nos fatores que levam à maior adesão a comportamentos de saúde. No estudo em
questão, encontrou-se que os maiores motivadores na aceitação da vacina da
Covid-19, possivelmente em virtude de ser uma vacina nova, foram os medos e a
preocupação com a vacinação.
Diante de limitações encontradas, foi
sugerido que as próximas pesquisas sobre o assunto obtenham um maior número de
respondentes por estados do Brasil, a fim de que seja possível a realização de
inferências mais precisas acerca do comportamento parental frente a vacinas no
país. Por fim, também foi apresentado como sugestão que estudos posteriores reavaliem
possíveis relações de influência do gênero dos pais na hesitação de vacinar as
crianças.
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