Decisão dos pais na vacinação infantil

 Resenhado por Maísa Carvalho

Serpell, L., & Green, J. (2006). Parental decision-making in childhood vaccination. Vaccine24(19), 4041-4046. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2006.02.037

A vacinação é um instrumento farmacológico ou medicamentoso eficaz e seguro para a prevenção de diversas doenças, por exemplo, sarampo, caxumba e rubéola. Desde o início de 2020, com o surgimento do SARS-CoV-2, vírus associado à Covid-19, e até o presente momento, problemáticas relacionadas à vacinação da doença ainda são muito frequentes, especialmente quando direcionadas ao público infantil. Por necessitarem da aprovação dos pais, crianças estão sujeitas à decisão dos seus responsáveis para serem imunizadas ou não. A não vacinação gera consequências sociais, econômicas e de saúde graves e, por isso, compreender os motivos associados à tomada de decisão parental quanto à vacinação pode prevenir não apenas a manifestação das doenças, mas também o prejuízo em diferentes contextos. Dado o exposto, o presente artigo buscou revisar o que está associado à gênese e à manutenção das preocupações dos pais sobre os riscos atinentes à vacinação.

O trabalho mostra que a avaliação dos riscos pelos pais no processo de tomada de decisão de vacinar ou não vacinar os filhos apresenta processos pouco pragmáticos. Para estimar a probabilidade, os pais podem utilizar a: (1) heurística, um mecanismo cognitivo e um atalho mental para tomar decisões rápidas e pouco avaliativas, mas que pode levar a erros de avaliação; a (2) avaliabilidade, relativa ao número de eventos conhecimentos e disponíveis para o processo de tomada de decisão, normalmente advindos da experiência pessoal; o processo de ancorar e ajustar (3), quando a estimativa de probabilidade pode ser aumentada em razão das crenças sobre a suscetibilidade aos eventos. Além disso, a (4) confiabilidade das fontes também impacta no processo de decisão. Informações pouco claras a respeito dos riscos e benefícios, em especial de órgãos governamentais, tendem a influenciar negativamente na decisão de vacinar ou não.

Cientificamente, sabe-se que a percepção de seriedade é um dos elementos que compõem a busca por comportamentos de saúde. A revisão identificou que muitos pais exacerbam o risco e a seriedade desses eventos em comparação aos efeitos benéficos da vacinação, ainda que os efeitos associados aos eventos adversos sejam menos deletérios em comparação ao ato de não vacinar. A percepção de controle é um outro fator que foi associado. Pais que acreditam que os riscos podem ser reduzidos pelas próprias ações tendem a prevenir possíveis eventos adversos não vacinando seus filhos, visto que esses não são passíveis de controle. Além disso, a percepção de suscetibilidade pelos pais de que algumas crianças são mais vulneráveis para receber a vacina também se mostrou um fator interferente na decisão de vacinar.

O processo de tomada de decisão para vacinar crianças possui um histórico de vieses parentais comuns e outras problemáticas que continuam permeando a vacinação de crianças ao longo da história, como campanhas e informações pouco claras sobre os riscos e benefícios. As implicações da baixa adesão às campanhas de vacinação voltadas às crianças vão desde o aumento do número de casos de diferentes doenças e o estabelecimento de novos paradigmas culturais, até o ressurgimento de doenças antes erradicadas.

Por fim, diante dessa problemática, entende-se que pesquisadores e profissionais da Psicologia da Saúde possuem arcabouço teórico e técnico para pensar na formulação de campanhas e, assim, podem contribuir para que as ações em saúde pública na temática da vacinação sejam mais claras, assertivas e voltadas aos públicos que precisam ser atingidos.  

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