Neuroticismo prediz taxas de vacinação nacional em 56 países
Resenhado por
Brenda Fernanda P. Silva-Ferraz
Vermeulen, N. (2023).
Neuroticism predicts national vaccination rates across 56 countries. Current
Psychology. https://doi.org/10.1007/s12144-023-04234-8
Há uma variação significativa na
cobertura vacinal Covid-19 em todo o mundo. Alguns países não progrediram de
cerca de 2-3%, ao passo que outros estão perto de 100% de cobertura. Já se sabe
que fatores econômicos, de saúde e questões sociodemográficas podem funcionar
como preditores desse desfecho. Portanto, a presente pesquisa está interessada
em fatores emocionais que podem predizer uma parte significativa dessa variação
entre os países. Para tanto, avaliou-se o fator de personalidade Neuroticismo,
que corresponde à tendência relativamente estável a experimentar emoções
negativas, ansiedade e baixa tolerância ao estresse. As pessoas com pontuação
alta em neuroticismo são mais propensas a entender as situações cotidianas como
ameaçadoras. O neuroticismo, quando diretamente relacionado à reatividade
emocional e sensibilidade à ameaça, parece ser fundamental para a adoção de uma
estratégia para lidar com uma ameaça letal em grande escala. A hipótese da
presente investigação é a de que esse fator pode ser um preditor relevante na
variabilidade nas taxas de vacinação entre os países.
Os dados sobre o neuroticismo em 56
países foram retirados de um estudo realizado em 2007. Os indicadores de
vacinação foram coletados no site Our World in Data (https://ourworldindata.org/).
Correlações com neuroticismo foram altamente significativas para dois dos três
indicadores (ter recebido pelo menos uma dose e estar totalmente vacinado: p
= 0,003). Em relação aos preditores de saúde, os três indicadores de vacinação
foram significativamente associados com variáveis como o produto interno bruto per capita (p < 0,001), a
idade média da população do país (p < 0,001) e a taxa de obesidade (p
< 0,05). O tamanho ou a densidade da população não se correlacionaram com as
taxas de vacinação. Correlações parciais entre neuroticismo e taxas de
vacinação permaneceram significativas após o controle do PIB, idade mediana,
bem como para taxas de obesidade (IMC >30) (p < 0,01).
Os resultados das regressões mostraram
que o principal preditor de vacinação em um país foi o PIB para todos os três
indicadores de vacinas. O PIB sozinho representou entre 41% e 53% da
variabilidade entre países nas taxas de vacinação. O neuroticismo foi o único
outro preditor significativo para a taxa de vacinação (pelo menos uma dose) e
representou um adicional de 9% da variância entre países. Quanto mais rico o
país e maior sua média de neuroticismo pontuação, maior a sua taxa de vacinação
(pelo menos uma dose). Além do PIB, para a taxa dos totalmente vacinados, a
idade média previu significativamente 5% do adicional variância, sendo que o
neuroticismo adicionou significativamente outros 6% ao modelo final.
O estudo concluiu, portanto, que o
neuroticismo previu significativamente variações nas taxas de vacinação entre
os países. Tais dados reiteram a relevância de estudos da Psicologia da Saúde
que investiguem variáveis psicológicas, a exemplo dos traços de personalidade,
associadas a comportamentos de saúde, a fim de que estratégias de saúde pública
mais eficazes sejam pensadas.
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