Técnicas psicológicas para manejo odontológico de pacientes com transtorno do espectro autista
Gonçalves, Y., Primo, L., & Pintor, A. (2021).
Técnicas Psicológicas para manejo odontológico de pacientes com transtorno do
espectro autista. Revista Psicologia,
Saúde & Doenças, 22(3),
867-880. https://doi.org/10.15309/21psd220308
Resenhado
por Júlia Nunes
O Transtorno do Espectro Autista
(TEA) é classificado como um transtorno do neurodesenvolvimento, cujas
repercussões se manifestam através de prejuízos nas interações sociais, na
comunicação social e de um repertório de atividades e interesses restritos e repetitivos.
As crianças com TEA frequentemente oferecem uma colaboração limitada para
procedimentos odontológicos, necessitando de estratégias para manejo de
comportamento. Com objetivo de sistematizar a produção sobre técnicas
psicológicas no manejo do comportamento de pacientes com TEA no ambiente
odontológico, foi realizada uma scoping
review a partir de dados coletados nas bases de dados: Pubmed, Cochrane
Library, LILACS e Scopus. Contemplou-se apenas estudos dos últimos 10 anos
(2008-2018), publicados em inglês e que relataram a utilização de técnicas
psicológicas ou não aversivas no atendimento/tratamento odontológico de pessoas
com TEA.
A busca resultou em 242 estudos, dos
quais apenas nove atenderam aos critérios apresentados. Verificou-se que a maioria
dos trabalhos incluíram pacientes entre 6 e 12 anos, sendo realizada mais de
uma consulta para dessensibilização e adaptação do paciente ao ambiente do
consultório odontológico. A maioria dos estudos utilizaram a modelagem como
intervenção para manejo do comportamento, que é uma técnica que utiliza imagens
ilustrativas, fotos e livros com etapas do atendimento odontológico. Foram
observadas, também, possibilidades audiovisuais, como assistir a uma gravação
em DVD de uma criança submetida a uma consulta odontológica e automodelagem
realizada com imagens ilustrativas, ou óculos VR. A distração audiovisual com
óculos também foi um recurso utilizado a partir da utilização de vídeos, em que
o filme favorito era exibido durante a consulta odontológica.
Por último, a intervenção com
ambiente sensorial adaptado com cortinas de blackout
e efeitos de cores visuais, em movimento lento que brilhavam no teto, e o
programa D-TERMINED, que consiste em manter o contato visual (lembrando o
paciente de olhar para o dentista frequentemente durante a visita), modelagem
posicional (pernas para dentro em linha reta e mão em cima da barriga por 10
segundos) e contagem de tempo (contando verbal e repetidamente até 10 segundos,
sempre completando o procedimento dentro desse tempo), foram outras técnicas
encontradas.
Essas técnicas mostraram potencial
para a cooperação e melhora no comportamento do paciente com TEA durante o
atendimento odontológico. No entanto, não é possível a utilização de uma
técnica que sirva para todos os pacientes, devido aos diferentes níveis
cognitivos dessa condição clínica. Por isso, é sempre importante montar uma
abordagem terapêutica individualizada para cada paciente. No contexto da
psicologia da saúde, estudos como esse devem ser realizados, haja vista que é
uma das competências da área produzir melhorias para os serviços clínicos.
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