Diferenças entre gênero nos transtornos de ansiedade: Uma revisão

 

Jalnapurkar, I., Allen, M., & Pigott, T. (2018). Sex diferences in anxiety disorders: A review. HSOA journal of psychiatry, depression & anxiety, 4(1), 1-9. http://dx.doi.org/10.24966/PDA-0150/100011

 

Resenhado por Beatriz Oliveira

 

Os transtornos de ansiedade são condições psiquiátricas comuns que podem causar alguns impactos na vida das pessoas, como desempenho ocupacional reduzido, comprometimento funcional e aumento nas taxas de mortalidade e morbidade. Essas consequências não atingem todos os indivíduos da mesma forma, pois existem grupos que apresentam certa vulnerabilidade não somente em relação à ocorrência do transtorno, mas também associada ao seu curso e resposta. As mulheres, por exemplo, estão mais propensas a desenvolverem algum transtorno de ansiedade ao longo da vida e a apresentarem alguma condição comórbida ao distúrbio quando comparadas aos homens.

O papel dos hormônios femininos e dos ciclos relacionados, as diferenças fisiológicas que podem levar a distinção de sintomas e de resposta ao transtorno, bem como as diferenças nas estruturas cerebrais, são foco de estudos que visam a investigar o plano de fundo dessa vulnerabilidade. Este estudo, por meio de uma revisão de literatura, teve como objetivo abordar características dos transtornos de ansiedade na população feminina, incluindo transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtorno de pânico (TP) e transtorno de ansiedade social (TAS). Foram investigados os impactos de gênero na epidemiologia, fenomenologia, curso e resposta ao tratamento desses distúrbios, além das diferenças biológicas e sua relevância para o manejo desses transtornos.

Flutuações periódicas nos níveis de hormônios, como progesterona e estrogênio, presente em fases que vão desde a menarca ao período pós-menopausa, podem influenciar na ocorrência, na gravidade dos sintomas, no curso e na resposta ao tratamento dos transtornos de ansiedade em mulheres. Em relação ao TAG, esse grupo apresenta de duas a três vezes mais chances de atender aos critérios de diagnóstico quando comparado aos homens. Esse risco parece aumentar durante a gravidez, podendo estar associado a fatores como abuso na infância e ao baixo nível educacional e de apoio. Apesar dos homens serem menos propensos a procurarem tratamento para essa condição, em alguns estudos é possível notar que são as mulheres que apresentam taxas mais baixas e mais tardias de remissão. Além disso, a população feminina demonstrou maior suscetibilidade ao diagnóstico de TAG com depressão comórbida, o que contribui com a presença de sintomas mais graves e curso mais crônico do transtorno.

As mulheres também são mais propensas a atenderem aos critérios para o diagnóstico de TAS ao decorrer do tempo, assim como estão mais vulneráveis a ter comorbidades psiquiátricas. Em uma amostra clínica, esse grupo demonstrou medo mais intenso e maior número de situações sociais temidas, como comer ou beber em público e conversar com outras pessoas. No TP, o período pós-parto foi considerado um dos momentos de maior risco para a ocorrência do transtorno quando comparado as fases de gravidez e não gravidez. Ademais, um estudo abordado no artigo demonstrou que as mulheres são mais propensas a endossar sintomas individuais e de evitação relacionados ao pânico. Tal diferença na sintomatologia pode ser explicada por condições fisiopatológicas distintas, como a sensibilidade ao CO2 e no limiar para ataques de pânico.

Portanto, pode-se considerar que existem diferenças relevantes entre gênero na prevalência, comorbidade e características clínicas dos transtornos de ansiedade, incluindo TAG, TP e TAS. Esses achados contribuem para que intervenções psicológicas observem questões associadas ao gênero, a fim de auxiliar na resposta de tratamento em mulheres. Vale destacar a importância de pesquisas nesse âmbito para conhecimento e elaboração de práticas que melhor atenda essa população.

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