O debate sobre vacinas em redes sociais: uma análise exploratória dos links com maior engajamento

 

Massarani, L., Leal, T., & Waltz, I. (2020). O debate sobre vacinas em redes sociais: uma análise exploratória dos links com maior engajamento. Cadernos de Saúde Pública36. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00148319

 

Estudos têm apontado que a expansão do acesso às comunicações digitais transformou a Internet em uma das mais relevantes fontes de informação em saúde para a população. Apesar do aumento no acesso à informação ter trazido benefícios, constituiu-se, também, como um terreno fértil à dispersão de informações falsas e à tomada de posição radicalizada. No Brasil, apesar do reconhecimento da importância das vacinas, a rápida disseminação de informações falsas indica um cenário de crescimento do discurso anticiência. Diante desse quadro, o objetivo do trabalho foi compreender quais informações sobre vacinas foram mais consumidas e compartilhadas nas redes sociais no contexto brasileiro recente.

A coleta dos links com maior popularidade foi feita por meio do BuzzSumo a partir do termo indutor “vacina”. Reuniu os links com maior engajamento – compartilhamentos, curtidas e comentários – no Facebook, Twitter, Pinterest e Reddit, entre 22 de maio de 2018 e 21 de maio de 2019. Utilizou-se a técnica de análise do discurso para análise do conteúdo dos links.

A amostra foi composta por 89 links que abordavam a temática da vacinação no campo da ciência e saúde e no campo político. As fakes news corresponderam a um do total de 12 links com maior engajamento. Um ponto positivo notado foi a presença do fact checking em 7 sete links. Isso demonstra que a preocupação com a veracidade e a correção de informações também é um fator de engajamento nas redes sociais. Além disso, no período analisado, observou-se a primazia de matérias que versavam sobre meningite, em grande parte impulsionadas pela morte do neto do presidente Lula. Em relação ao posicionamento dos textos, 78 foram classificados como pró-vacina e 8 como contra. Três deles foram classificados como metáfora por se referirem à vacina de forma figurada. Já os tipos de veículo foram categorizados entre sites profissionais e não profissionais, sendo que apenas três links coletados apontavam para páginas eletrônicas de instituições acadêmico-científicas: um da área médica (Abrasco) e dois educacionais.

Os autores discutem que, por um lado, o predomínio de informações verdadeiras e de discursos pró-vacina reforça que a vacinação ainda é vista como benéfica e necessária. Sendo as redes sociais são um espaço importante na contemporaneidade para a busca de informações científicas, cujo potencial deve ser explorado para promover a participação e o acesso ao conhecimento científico. Por outro lado, o menor volume dos discursos contra a vacinação entre os links de maior engajamento, em um contexto de crescimento do discurso antivacina, não representa uma contradição, e sim demonstra a necessidade de pensar hipóteses que direcionam novos esforços de pesquisa. Uma delas é a de que esse movimento não atua prioritariamente nos espaços públicos do Facebook e do Twitter, mas em outras ambiências midiáticas, como grupos fechados no Facebook e no Whatsapp.

Por fim, o conhecimento sobre forma como as pessoas pensam o processo saúde-doença é um ponto importante para os estudos na área da psicologia da saúde, visto que possibilita o desenvolvimento de intervenções psicológicas e comportamentais eficazes em diversos âmbitos, a exemplo, na adesão da população às campanhas de vacinação.

           

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