Eficácia, durabilidade e correlatos clínicos da intervenção de habilidades sociais PEERS em adultos jovens com transtorno do espectro autista: a primeira evidência fora da América do Norte

 

Chien, Y. L., Tsai, W. C., Chen, W. H., Yang, C. L., Gau, S. S. F., Soong, W. T., Laugeson, E., & Chiu, Y. N. (2023). Effectiveness, durability, and clinical correlates of the PEERS social skills intervention in young adults with autism spectrum disorder: The first evidence outside North America. Psychological Medicine, 53(3), 966-976. https://doi.org/10.1017/S0033291721002385

Resenhado por Lucas Souza

 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento marcado por déficits persistentes na comunicação social, por comportamentos estereotipados/repetitivos e por resposta sensorial incomum. Os impactos no funcionamento social tendem a se estender por toda a vida, não havendo, até recentemente, alternativas baseadas em evidência para o treinamento de habilidades sociais nesse público. O Programa para Educação e Enriquecimento de Habilidades Relacionais [do inglês, Program for the Education and Enrichment of Relational Skills (PEERS)] surge como possibilidade de intervenção psicológica voltada ao desenvolvimento de habilidades sociais em autistas.

O presente estudo teve três objetivos. Primeiramente, avaliar a efetividade da intervenção PEERS para jovens adultos taiwaneses, comparando múltiplos domínios como “funcionamento social” e “severidade do autismo” utilizando a observação direta, o autorrelato dos participantes e o relato dos cuidadores. O segundo objetivo foi avaliar a duração da intervenção em seguimentos de 3 e de 6 meses. O terceiro objetivo foi delimitar correlatos clínicos de efetividade, por exemplo, o Quociente de Inteligência (QI) e severidade dos sintomas basais. Os pesquisadores esperavam que maior QI, menor severidade de sintomas e menor ansiedade social fossem associados a mais ganhos com a intervenção.

Foram recrutados 82 jovens adultos com TEA que realizaram tratamento no National Taiwan University Hospital e divididos randomicamente entre dois grupos de 41 participantes. Os participantes do grupo PEERS foram alocados em 4 subgrupos de 10 ou 11 participantes que receberam tratamento psicoterápico em grupo semanal totalizando 16 sessões com duração de 90 minutos. Dos 41 participantes, 36 completaram o programa de tratamento e desses, três se recusaram em realizar o seguimento com a pesquisa nos seguimentos de 3 e 6 meses. O grupo controle recebeu tratamento com psicoterapia de suporte e aconselhamento para resolução de problemas. Não houve perdas no seguimento dos pacientes do grupo controle.

O grupo PEERS demonstrou melhora estatisticamente significativa em aspectos de déficits sociais, ansiedade relacionada à interação social, gravidade do autismo, empatia e conhecimento de habilidades sociais. Os comportamentos relacionados à comunicação apresentaram melhora no decorrer das sessões, por exemplo, o contato visual e expressões faciais apropriadas, a utilização de gestos e a reciprocidade durante a manutenção da conversa. Um dado importante é que as habilidades adquiridas tendiam a se manterem presentes nos seguimentos de 3 e 6 meses. Os indivíduos com menor severidade da doença apresentaram maior melhora nos déficits sociais e aqueles com maior inteligência apresentaram mais ganho no conhecimento de habilidades sociais.

O presente estudo é importante para a consolidação de evidências científicas voltadas ao desenvolvimento de habilidades sociais em indivíduos com o transtorno do espectro autista. Os achados do atual estudo clínico demonstram ganhos em diferentes aspectos da vivência social dos indivíduos com TEA e mostram a sustentação desses ganhos ao longo do tempo.

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