Ruminação no transtorno de estresse pós-traumático: Uma revisão sistemática

 

Molda, M. L., Bisby, M. A., Wild, J., & Bryant, R. A. (2020). Rumination in posttraumatic stress disorder: A systematic review. Clinical Psychology Review, 82(2020), 101910. https://doi.org/10.1016/j.cpr.2020.101910

Resenhado por Beatriz Oliveira

 

A ruminação é frequentemente estudada no contexto da depressão. No entanto, a literatura tem apontado o seu caráter transdiagnóstico, em que pode ser vista como um processo cognitivo que desempenha um papel de manutenção em diferentes transtornos, a exemplo do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Um dos sintomas fundamentais do TEPT são os pensamentos intrusivos, nos quais são aspectos que apresentam certas distinções com a ruminação, apesar de estarem fortemente ligados e funcionarem como um catalisador. Os pensamentos intrusivos tratam-se de ‘flashes’ em relação ao trauma que vêm à mente de modo espontâneo. Já na ruminação, o conteúdo dos pensamentos é referente aos antecedentes e às consequências do evento traumático.  

Esta revisão objetivou abordar a frequência, a natureza, a capacidade preditiva e o papel de manutenção da ruminação no TEPT, bem como discutir questões metodológicas que limitam o trabalho clínico e de pesquisa nessa área. Para tal, foi feita uma busca nos bancos de dados PsycINFO, Scopus e PubMed entre o final de 2019 e abril de 2020. Foram selecionados artigos de desenhos variados, como transversais, prospectivos, randomizados e controlados a fim de realizar uma revisão mais abrangente. Além disso, as pesquisas escolhidas para compor esta revisão eram com participantes de qualquer idade, diagnosticados com TEPT, em vez de pessoas que relatavam sintomas de estresse pós-traumático.

Os resultados apontaram os pensamentos ruminativos como uma característica cognitiva comum aos sintomas de TEPT. Também foi encontrado uma presença recorrente de pensamentos em relação a como seria a vida da pessoa caso o evento não tivesse acontecido. Outro ponto observado foi a associação entre ruminação e aumento de emoções negativas, desencadeando pensamentos e memórias intrusivas. Em relação a variáveis mediadoras, alguns artigos identificaram a evitação experiencial e níveis percebidos de estresse como aspectos que poderiam mediar a relação entre pensamentos ruminativos e TEPT, porém mais estudos são necessários para compreender essa mediação.

Exemplificado no artigo, uma pesquisa com pessoas que sofreram acidentes automobilísticos apresentou redução da ruminação em três meses de tratamento do transtorno, indicando a possibilidade de mecanismos em comum entre pensamento ruminativo e estresse pós-traumático, mas poucas análises foram feitas a respeito de como o tratamento de TEPT poderia reduzir a ruminação. Relacionado às implicações teóricas e práticas, a revisão destacou alguns pontos importantes. Dentre eles, testes experimentais, para uma melhor compreensão teórica da ruminação no TEPT, a importância de melhor mensurar os pensamentos ruminativos no estresse pós-traumático, destacando a necessidade de desenvolvimento e validação de um instrumento de autorrelato. Apontou-se, ainda, a carência de estudos de ruminação em TEPT ao longo da vida, bem como a falta de amostras clínicas.

Diante do exposto, é possível perceber uma escassez na literatura em relação às pesquisas com ruminação no contexto de TEPT. Para um progresso nessa área, é fundamental que mais investigações sejam realizadas, a fim de alcançar uma compreensão teórica do papel dos pensamentos ruminativos no estresse pós-traumático. Por fim, isso também pode viabilizar a melhor avaliação e elaboração de protocolos de intervenção para pessoas expostas a eventos traumáticos e com pensamentos ruminativos recorrentes. 

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