Falta de diagnóstico e diagnósticos incorretos em adultos com transtorno do espectro autista
Fusar-Poli, L., Brondino, N., Politi, P., & Aguglia, E.
(2022). Missed diagnoses and misdiagnoses of adults with autism spectrum
disorder. European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience, 272(2),
187-198. https://doi.org/10.1007/s00406-020-01189-w
Resenha por
Luiz Guilherme L. Silva.
Estima-se que 1,5% da população em países desenvolvidos
seja afetada pelo transtorno do espectro autista (TEA). Atualmente, o
diagnóstico do transtorno é feito durante a infância devido aos avanços na
avaliação e diagnóstico psicológicos. Entretanto, existem muitos adultos que
apresentam o TEA e que não são diagnosticados ou recebem diagnósticos errados.
Nessa população, o diagnóstico de TEA pode ser difícil por diversas razões e,
dentre elas, podem ser citadas as dificuldades de acesso ao histórico
desenvolvimental, o mascaramento de alguns sinais e sintomas, e o fato de que
pessoas com alto desempenho cognitivo podem não apresentar dificuldades até a
adolescência ou idade adulta. A avaliação psicológica tardia para TEA pode vir
acompanhada de diagnósticos incorretos a exemplo de transtornos de ansiedade,
transtornos de personalidade, transtorno obsessivo-compulsivo e deficiência
intelectual (DI).
Este estudo buscou analisar o prontuário clínico de 161
adultos com TEA a fim de analisar o histórico psiquiátrico, sendo a maioria
(79,5%) do sexo masculino. Avaliou-se a presença de TEA, DI, ansiedade,
depressão e dimensões da personalidade. Cerca de 20% dos pacientes apresentaram
deficiência intelectual. Dentre outros transtornos mentais comórbidos,
depressão (9,9%), ansiedade (6,2%) e transtornos psicóticos (4,3%) foram os
mais comuns na amostra. Vale ressaltar que a proporção de comorbidades
psiquiátricas encontradas foi menor que àquela presente na literatura.
Encontrou-se que as mulheres foram diagnosticadas mais tarde que os homens,
demonstrando uma associação ao diagnóstico tardio de TEA no sexo feminino. A
maior parte da amostra apresentou habilidades cognitivas médias ou acima da
média, necessitando de níveis baixos ou moderados de suporte. Alguns dos
indivíduos foram diagnosticados previamente com DI, sem referência ao TEA,
depressão e que aqueles que foram diagnosticados com transtorno de
personalidade e/ou transtorno psicótico quase sempre foram usados o
especificador “não especificado”.
Dentro do campo da Psicologia e, mais especificamente, a
Psicologia da Saúde, a falta de preparação de diversos profissionais em
identificar o TEA em adolescentes e adultos é um obstáculo para a oferta de
tratamento adequado para essa população. Vale ressaltar que um passo favorável
para pacientes neurodivergentes foi a mudança do diagnóstico de transtorno como
categoria para espectro, no caso do autismo. Tal mudança favorece a inclusão
nessa categoria diagnóstica e oferta de tratamento para pessoas com TEA que
apresentam habilidades cognitivas na média e necessitam de suporte em nível
baixo e moderado. Entretanto, ainda é necessário que psicólogos da saúde, por
meio da educação continua, busquem se atualizar quanto à avaliação e
diagnóstico de TEA em adolescentes e adultos.
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