Mindfulness & autismo: Desenvolvimento de um protocolo baseado em Mindfulness para adultos com TEA e TMC
Spek, A. A., Ham, N. C. V., &
Nyklíček, I. (2013). Mindfulness-based therapy in adults with an autism
spectrum disorder: A randomized controlled trial. Research in Developmental Disabilities, 34, 246-253. https://doi.org/10.1016/j.ridd.2012.08.009
Resenhado por Beatriz Lima
O Transtorno do Espectro Autista
(TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que pode afetar o funcionamento
de um indivíduo em diversas áreas da sua vida. Aspectos como as dinâmicas
sociais do mundo moderno e reconhecimento do self podem aumentar o risco do desenvolvimento de transtornos
ansiosos e de humor nessa população, sendo a depressão e os transtornos
ansiosos as principais preocupações psiquiátricas nesse público. As
intervenções não-médicas para tratar essas patologias entre pessoas com TEA
concentram-se, principalmente, na terapia cognitivo comportamental (TCC). No
entanto, essa técnica apresenta algumas limitações como a longo tempo do
tratamento - decorrente das limitações cognitivas do TEA - e dúvidas acerca da
duração dos resultados. A terapia baseada em Mindfulness mostrou-se eficaz no tratamento de transtornos ansiosos
e de humor em populações clínicas. O Mindfulness
consiste em prestar atenção às experiências no momento presente sem
julgamento e com um viés de aceitação. Apesar de ambos buscarem a redução dos
sintomas ansiosos e depressivos, o Mindfulness,
diferentemente da TCC, não foca na análise cognitiva dos pensamentos, o que
pode ser benéfico para indivíduos com TEA, levando em conta as possíveis
limitações cognitivas associadas a esse transtorno.
O presente estudo investigou a
eficácia de um protocolo adaptado de Mindfulness
para a redução de sintomas ansiosos e depressivos em pessoas com TEA.
Participaram da pesquisa 41 pessoas, recrutadas no Adult Autism Center of Eindhoven, na Holanda. Os indivíduos
passaram por uma avaliação diagnóstica de TEA e os critérios de inclusão foram
a confirmação do diagnóstico, a presença de sintomas ansiosos, depressivos e/ou
de ruminação e ter entre 18 e 65 anos. Toda a amostra apresentava habilidades
verbais médias ou altas. Foi utilizado uma adaptação do protocolo de Mindfulness de Segal, Williams e
Teasdale (2002), com a omissão de elementos cognitivos, ampliação da duração
dos exercícios respiratórios e da quantidade de sessões. Ao todo, foram
realizadas 9 sessões semanais, com duração de 1h30min cada. Os participantes
foram orientados a praticar de 40 a 60 minutos de mindfulness diariamente, seis dias por semana.
Os resultados confirmaram a hipótese
apresentada inicialmente: os membros do
grupo experimental demonstraram redução nos níveis de ansiedade, depressão e
ruminação. Não foram observados os mesmos achados no grupo controle. Conforme
apontado na literatura, os achados sugeriram que o declínio dos sintomas de
ansiedade pode ser atribuído à redução da ruminação e a diminuição dos sintomas
de depressão pode ser parcialmente devido à redução das tendências à ruminação.
Além disso, foi observado aumento no afeto positivo no grupo experimental. No
entanto, nesse aspecto, nenhuma relação foi encontrada entre a redução da
ruminação e o aumento do afeto positivo. Isso pode sugerir que, para indivíduos
com autismo, a ruminação também pode ter um lado positivo, ainda que
parcialmente. De qualquer modo, cabe ressaltar a necessidade de novos estudos
para validação da efetividade do protocolo, levando em consideração o tamanho
da amostra utilizada e possíveis vieses, como o nível de habilidade verbal dos
participantes.
A partir dos achados desta pesquisa,
entende-se que uma intervenção baseada em Minfulness
para o tratamento de sintomas ansiosos, depressivos ou ruminação em adultos
com TEA apresentaria resultados promissores. Assim, faz-se necessário que o
psicólogo conheça diferentes intervenções e técnicas, a fim encontrar qual
melhor se adeque ao seu caso e ao seu paciente, promovendo bem-estar e
ajustamento psicológico em um menor período de tempo.
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