Avaliação da Relação entre Eventos Traumáticos Infantis e Comportamentos Autolesivos em Adolescentes
Menezes, M. S., & Faro, A. (2023). Avaliação da Relação
entre Eventos Traumáticos Infantis e Comportamentos Autolesivos em
Adolescentes. Psicologia: Ciência e
Profissão, 43, e247126. https://doi.org/10.1590/1982-3703003247126
Resenhado por Hugo Vinicius Santana
Batista
A adolescência é compreendida como
um período de mudanças e de maior vulnerabilidade cognitiva e emocional. Isso
muitas vezes predispõe o adolescente a se engajar em comportamentos danosos a
si mesmo. Por conseguinte, Eventos Traumáticos (ET) e Traumas Psicológicos (TP)
são recorrentes em crianças e adolescentes, pelo fato de estarem mais
vulneráveis a episódios que desencadeiam eventos de trauma.
Uma das consequências negativas de
situações traumáticas é o envolvimento em comportamentos autolesivos, resultado
da combinação de vários fatores sociais e pessoais e mais comuns em jovens. Por
essa razão, o estudo teve como objetivo relacionar eventos traumáticos na
infância com a ocorrência de comportamentos de autolesão na adolescência.
Realizou-se
uma pesquisa com 494 estudantes do ensino médio em cinco escolas de
Aracaju-Sergipe, sendo três públicas e duas privadas, no mês de setembro de
2019. Foram utilizados como instrumentos um questionário sociodemográfico, o Questionário sobre Traumas na Infância (QUESI),
com a finalidade de detectar violências sofridas no período da infância e
adolescência, e o Inventário de Autolesão
Deliberada (IAD-r), para mensurar comportamentos autolesivos. Para analisar
os dados, foi feita uma análise de Regressão Logística Binomial, sendo
comportamento autolesivo a variável dependente (VD) e abuso emocional, abuso
sexual e abuso físico as variáveis independentes (VIs), a partir do Statistical Package for the Social Science
v20 (SPSS versão 20).
De acordo
com os resultados, foi possível observar que, entre os respondentes, 35,0%
informaram nunca ter praticado autolesão, ao passo que 65,0% já se engajaram
com a autolesão ao menos uma vez na vida. Foi também verificado que os adolescentes que sofreram
algum tipo de abuso (emocional, físico ou sexual) apresentaram de duas a duas
vezes e meia mais chances de praticar autolesão em comparação àqueles que nunca
sofreram estes tipos de experiências traumáticas durante a infância.Vale
destacar que não foram encontradas diferenças em relação ao gênero dos
participantes. Entretanto, quanto à idade, adolescentes mais novos que sofreram
abuso físico inclinaram-se a uma maior adesão aos comportamentos autolesivos.
Essas
evidências permitiram identificar que a taxa de autolesão encontrada se mostrou
acima de outras pesquisas do mesmo tema. A pesquisa colaborou para a detecção
de fatores de risco para a conduta autolesiva em adolescentes, já que
corroborou a teoria de que adolescentes que vivenciaram ET tendem a ter mais
chances de praticar autolesão. Nesse sentido, verificou-se uma tendência dos
mais novos serem mais suscetíveis a tais comportamentos, a justificativa
sugerida pelos autores foi por possuírem menos recursos psicológicos e
estratégias adaptativas.
A
importância do estudo se dá pela contribuição às intervenções psicológicas,
além da contribuição para a melhor compreensão, pela psicologia
da saúde, de problemas cognitivos e comportamentais que acometem crianças e
adolescentes. Dessa forma, aspectos como desenvolvimento da autoestima,
regulação emocional e capacidade de resolução de problemas poderiam ser
trabalhados nos adolescentes a partir do profissional da psicologia. Ações
também são importantes no contexto familiar e escolar, com a finalidade de que
todas as esferas auxiliem o desenvolvimento cognitivo e comportamentos
favoráveis à saúde na adolescência.
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