Traços do Big Five como preditores da percepção de estresse durante a pandemia da Covid-19

 

Resenhado por Brenda Fernanda Silva-Ferraz

Zacher, H., & Rudolph, C. W. (2021). Big Five traits as predictors of perceived stressfulness of the COVID-19 pandemic. Personality and Individual Differences, 175, 110694. https://doi.org/10.1016/j.paid.2021.110694

 

A pandemia da Covid-19 ocasionou diversos impactos na vida das pessoas, incluindo a saúde mental. Os traços de personalidade estão relacionados com o modo como as pessoas interpretam e reagem a situações adversas, a exemplo da pandemia. Neste caso, podem haver sintomas depressivos, ansiosos, redução no bem-estar e uso de estratégias de enfrentamento mal adaptativas. Destaca-se que o conhecimento acerca dos traços de personalidade enquanto fatores preditivos da mudança na percepção do estresse ao longo do tempo é importante para se pensar em intervenções eficazes nos momentos de crise. Por isso, a presente pesquisa objetivou examinar os traços de personalidade do Big Five como preditores de diferenças individuais e mudanças no estresse percebido da pandemia de COVID-19 na Alemanha entre o início de abril de 2020 e o início de setembro de 2020.

As hipóteses do presente estudo foram: 1) o declínio do estresse percebido entre abril e julho de 2020 será maior do que o declínio entre julho e setembro de 2020; 2) o nível médio de estresse percebido será predito pela extroversão (quanto mais alta a extroversão, maior a percepção de estresse) e pela estabilidade emocional (maior estabilidade, menor estresse) e; 3) mudanças na percepção de estresse serão preditas pela extroversão e estabilidade emocional.

Neste estudo longitudinal, os dados foram coletados em seis momentos: dezembro de 2019 (T0), abril de 2020 (T1), maio de 2020 (T2), julho de 2020 (T3), agosto de 2020 (T4) e setembro de 2020 (T5). O número de participantes que responderam aos seis tempos de coleta foi 588, com idade média de 45 anos (DP = 10,7).

De forma consistente com o esperado, os resultados mostraram que, em média, o estresse percebido diminuiu entre o início de abril de 2020 e início de setembro de 2020. Além disso, esse efeito foi mais forte entre o início de abril de 2020 e o início de julho de 2020. A estabilidade emocional foi associada a níveis mais baixos e a extroversão associada a níveis mais elevados de estresse percebido. Finalmente, a extroversão foi associada ao aumento no estresse percebido entre o início de abril de 2020 e o início de julho de 2020 e diminuição no estresse percebido entre o início de julho de 2020 e o início de setembro de 2020.

Os achados corroboram a ideia de que, até certo ponto, os traços de personalidade das pessoas impactam nas reações emocionais e no ajustamento a situações estressantes. Essa evidência é importante para a Psicologia da Saúde, uma vez que se trata de um construto psicológico que funciona como indicador de saúde frente a situação adversas. Assim, ao identificar traços de personalidade que vulnerabilizam as pessoas para o sofrimento mental, pode-se pensar em intervenções mais diretivas e eficazes.

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