Práticas Baseadas em Evidências para pessoas com Autismo
Postado por
Maria Heloísa
A matéria
apresenta o que são Práticas Baseadas em Evidências (PBE) e iniciativas da PBE
no Transtorno do Espectro Autista. Foram apresentadas instituições que realizam
pesquisas nesse campo, além de resultados de suas revisões sistemáticas. As
intervenções com melhor evidência para o autismo são, sobretudo, baseadas na
Análise do Comportamento Aplicada, cuja prática é compartilhada por diferentes
profissionais da saúde e da educação: psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas
ocupacionais, professores e mediadores escolares. Mostrou-se que a maior parte
das pesquisas com o autismo é realizada no ambiente escolar, sendo que muitas
das intervenções também são feitas por educadores. Logo, foi evidenciada a
demanda pelo uso do arcabouço conceitual da PBE no processo de escolarização,
campo que também pode ser ocupado por psicólogos escolares.
Link:
Notícia:
O
movimento de Práticas Baseadas em evidências
Quando
falamos em “Práticas Baseadas em Evidências”, é natural que pensemos
primeiramente em um conceito que lhe é fundamental, que é o de “Medicina
Baseada em Evidências”, que foi o primeiro campo de hegemonia da utilização de
estudos científicos bem estabelecidos para a orientação da prática aplicada do
conhecimento científico. Mas muito se passou desde a década de 1970 e o
movimento que defende a utilização da ciência mais rigorosa se espalhou por
todos os campos do conhecimento aplicado em todas as esferas da sociedade,
atingindo campos como os da psicologia e educação, de especial interesse para
essa discussão [1].
No
conhecimento aplicado da maior parte dos campos de intervenção em doenças e
transtornos, uma avaliação das práticas com melhor evidência científica é uma
tarefa profundamente difícil e custosa, pois se trata de um conhecimento
pulverizado em centenas (milhares?) de Revisões Sistemáticas, intervenção por
intervenção. No caso do Transtorno do Espectro do Autismo a questão é bastante
distinta porque a área conta com algumas iniciativas gigantescas de realização
de Revisões Sistemáticas com grandes times com o objetivo de compilar as
múltiplas intervenções pertinentes à condição do Autismo e apresentar o escopo
de sua utilização.
A
partir de uma lei estadunidense promulgada em 2001, chamada de No Child Left
Behind (https://www2.ed.gov/nclb/landing.jhtml) [Nenhuma Criança Deixada para
Trás], passou a ser obrigatória a utilização de práticas baseadas em evidências
da educação especial no sistema público de educação daquele país, o que obrigou
os departamentos de educação a financiar iniciativas de pesquisa que pudessem
apresentar e descrever as práticas permitidas e olhar para estas pesquisas,
onde e como são feitas, pode nos ajudar a responder em que contextos, de
atendimento educacional ou terapêutico, são os mais adequados para se endereçar
os apoios a pessoas com autismo [2].
As
iniciativas PBE no Autismo
Existem
duas grandes instituições realizando as maiores iniciativas de pesquisa neste
campo, o National Autism Center (https://nationalautismcenter.org/), que
publicou a segunda fase de sua Revisão, o National Standard Project [3] com um
caderno especial para as práticas escolares e a The National Clearinghouse on
Autism Evidence and Practice – NCAEP (https://ncaep.fpg.unc.edu/), cuja Revisão
foi apresentada em 2020 em seu relatório [4], apresentando 28 práticas com
evidência para o apoio a pessoas com autismo, publicado posteriormente em uma
revista com revisão cega dupla por pares [5]. Este trabalho pode ser lido em
uma versão em língua portuguesa oficial
(https://ncaep.fpg.unc.edu/sites/ncaep.fpg.unc.edu/files/imce/documents/Pr%C3%A1tica%20Baseada%20em%20Evid%C3%AAncias%20para%20Crian%C3%A7as%2C%20Adolescentes%20e%20Jovens%20Adultos%20com%20Autismo.pdf),
com tradução das analistas do comportamento Luiza Guimarães e Roberta Dias e
também na versão em inglês com todos os apêndices, incluindo quais os domínios
de eficácia de cada prática, assim como a idade em que é demonstradamente
efetiva, entre 0 e 22 anos [4].
Quando
olhamos para a estratificação dos dados da última grande pesquisa de práticas
baseadas em evidências, a revisão sistemática NCAEP dois números são relevantes
para esta nossa discussão, que se referem ao contexto de ocorrência e quem
foram os aplicadores das intervenções nas pesquisas científicas que atenderam
aos critérios de inclusão da revisão, eles nos dão a base para entender onde e
como foram mensurados os efeitos positivos nos diversos campos do
desenvolvimento de indivíduos diagnosticados com o Transtorno do Espectro
Autista.
Educação
ou terapia?
A
pesquisa revela que, apesar de escolas serem um ambiente conturbado, com uma
enormidade de variáveis sobre as quais os pesquisadores podem não ter controle,
como o comportamento dos inúmeros outros estudantes que não os de interesse da
pesquisa, ainda assim esse foi o contexto com a maior quantidade de ocorrência
dessas pesquisas, com 48,1%, enquanto em clínicas universitárias (20,4%) e comunitárias
(13,2%) não somam o mesmo número [4].
No
que diz respeito aos profissionais responsáveis pela implementação das
intervenções, também são os educadores os principais agentes de aplicação
(20%), acima de uma categoria genérica de “terapeutas” (12,7%) e cerca de seis
vezes a quantidade de implementação por parte de profissionais da psicologia
(3,7%). A categoria de analistas do comportamento certificados pelo BACB, os
BCBAs, eles somam 2,8%, mas não é possível dizer se são originalmente
educadores ou terapeutas, por falta desta informação na pesquisa [4].
Conclusões
Obviamente
esta informação não diz respeito a qualquer afirmação hierárquica entre os
profissionais que apoiam pessoas com autismo em suas jornadas, mas tem três
sentidos distintos que são importantes de serem afirmados de modo contundente:
As
intervenções com melhor evidência são, em sua maioria, baseados em Análise do
Comportamento Aplicada e é de responsabilidade e escopo compartilhado sua
implementação por profissionais que são usualmente vinculados a áreas de saúde,
como profissionais da psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional e também
profissionais do campo da educação, como professores e mediadores escolares;
O
alheamento usual das escolas das práticas baseadas em evidências no processo de
escolarização de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista não é
justificável sob o ponto de vista das pesquisas contemporaneamente disponíveis,
uma vez que os diversos domínios comportamentais das habilidades de aprendiz,
habilidades desenvolvimentais e habilidades acadêmicas foram e continuam a ser
largamente estudados, fornecendo uma sólida base para o trabalho educacional;
A
congruência da maioria das pesquisas nos campos terapeutico e educacional sob o
arcabouço conceitual da Análise do Comportamento permite uma integração
orgânica entre profissionais desses campos com o foco na busca dos objetivos
individuais de indivíduos com autismo em seus processos de escolarização.
E
que venham mais pesquisas e novas possibilidades de trabalho para o máximo
desenvolvimento de pessoas com autismo e apoio a suas famílias!
Referências:
[1]
Melnik, T., de Souza, W. F., & de Carvalho, M. R. (2014). A importância da
prática da psicologia baseada em evidências: aspectos conceituais, níveis de
evidência, mitos e resistências. Revista Costarricense de Psicología, 33(2),
79-92.
[2]
Liberalesso, P., & Lacerda, L. (2020). Autismo: compreensão e práticas
baseadas em evidências. Capricha na Inclusão: Curitiba: Brasil. Disponível em:
https://mid.curitiba.pr.gov.br/2021/00312283.pdf
[3]
National Autism Center (2015). National Standards Project: Addressing the need
for evidencebased practice guidelines for Autism Spectrum Disorders. Retrieved
from https://mn.gov/mnddc/asd-employment/pdf/09-NSR-NAC.pdf
[4]
Steinbrenner, J. R., Hume, K., Odom, S. L., Morin, K. L., Nowell, S. W.,
Tomaszewski, B., … & Savage, M. N. (2020). Evidence-Based Practices for
Children, Youth, and Young Adults with Autism. FPG Child Development Institute.
Disponível em:
https://ncaep.fpg.unc.edu/sites/ncaep.fpg.unc.edu/files/imce/documents/EBP%20Report%202020.pdf
[5]
Hume, K., Steinbrenner, J. R., Odom, S. L., et al. (2021). Evidence-based
practices for children, youth, and young adults with autism: Third generation
review. Journal of Autism and Developmental Disorders. Early Online.
https://doi.org/10.1007/s10803-020-04844-2.
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