Suicidalidade em adultos com Transtorno do Espectro Autista: ruminação e autoestima

 

Arwert, T. G., & Sizoo, B. B. (2020). Self-reported suicidality in male and female adults with autism spectrum disorders: Rumination and self-esteem. Journal of Autism and Developmental Disorders, 50(10). https://doi.org/10.1007/s10803-020-04372-z

 

Resenhado por Luiz Fernando de Andrade Melo

 

Existem muitos estudos sobre suicídio na população geral, mas poucos sobre suicidalidade entre adultos com Transtorno do Espectro Autista - TEA. Baixos níveis de suporte social, altos níveis de solidão e de depressão podem ser fatores de risco para suicidalidade em pessoas com TEA. Isso explica porque indivíduos com TEA apresentam níveis maiores de ideação suicida quando comparados com a população geral. Além disso, ruminação e autoestima tendem a estar correlacionadas tanto com suicidalidade e depressão, quanto com o TEA. Entretanto, há uma lacuna na literatura sobre o papel da ruminação e da autoestima nos níveis de suicidalidade de adultos com TEA. Por essa razão, este estudo teve como objetivo analisar as relações entre ruminação e autoestima com os graus suicidalidade  na população adulta diagnosticada com o transtorno.

Participaram da pesquisa 75 pessoas diagnosticadas com TEA entre o período de outubro de 2017 e agosto de 2018 nos Países Baixos. Os respondentes preencheram informações sobre ideação suicida, suicidalidade, autoestima, ruminação e depressão. Utilizou-se a Beck Scale for Suicidal Ideation – BSS para avaliar os níveis de ideação suicida e a presença ou ausência de suicidalidade. A Dutch version of the Rosenberg Self-esteem Scale – RSES foi utilizada para mensurar a autoestima dos participantes ao passo que o Rumination-Reflection Questionnaire – RRQ analisou as ruminações. Por fim, a Dutch version of the Beck Inventory-II – BDI-2-NL-R foi usada para medir os níveis de depressão entre os pesquisados. A análise dos graus de suicidalidade com as variáveis foi feita com correlações de Pearson e regressões lineares múltiplas.

Os resultados demonstraram que 66,6% dos participantes apresentavam suicidalidade. Tanto a ruminação, quanto os níveis de depressão, estavam correlacionados positivamente com os graus de suicidalidade. A autoestima estava correlacionada negativamente com a ruminação, os níveis de depressão e a suicidalidade. Pessoas com algum histórico de tentativa de suicídio apresentaram níveis ainda maiores de ruminação. A proporção de mulheres com ideação suicida foi maior que em homens, mas não houve diferenças estatisticamente significativas de gênero nos resultados de ruminação e autoestima.

Esses achados permitem identificar variáveis que estão relacionadas com suicidalidade e ideação suicida entre adultos com Transtorno do Espectro Autista, de modo que seja possível intervir a fim de diminuir o risco de suicídio. Os baixos níveis de autoestima, por exemplo, podem ser discutidos pela relação do que indivíduo teve com o próprio transtorno, a exemplo da forma em que ele lidou com o autismo e com pressões sociais vivenciadas pelo diagnóstico do TEA. Inclusive, alguns adultos podiam apresentar camuflagem como estratégia de coping para mascarar comportamentos ligados ao TEA, o que configurou um preditor para suicidalidade nessa população. Ademais, a ruminação também teve seu papel na relação das ideações e tentativas de suicídio, especialmente quando se notou que ela é um traço característico do paciente.  

De acordo com os achados do presente estudo, tratamentos que abordem autoestima, ruminação e crenças associadas podem reduzir o risco de suicídio em pacientes com Transtorno do Espectro Autista, especialmente se houver um diagnóstico de depressão relacionado. Sendo assim, a função do psicólogo é trabalhar na forma como o paciente se percebe e nas crenças que levam à ruminação, a fim de melhorar a autoestima e reduzir as ideias suicidas.

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