Melatonina para distúrbios do sono em pessoas com autismo: revisão sistemática e metanálise

 

Nogueira, H. A., de Castro, C. T., da Silva, D. C. G., & Pereira, M. (2022). Melatonin for sleep disorders in people with autism: Systematic review and meta-analysis. Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry, 110695. https://doi.org/10.1016/j.pnpbp.2022.110695

Resenhado por Lucas Souza

 

Pessoas com transtornos do neurodesenvolvimento, em especial pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), estão sob maior risco que a população geral de desenvolverem distúrbios do sono. Essas alterações no sono podem influenciar negativamente no funcionamento do indivíduo durante o dia e aumentando o seu nível de estresse. Além disso, alterações no sono podem agravar problemas comportamentais, déficits na comunicação e aumentar comportamentos estereotipados. Nesse cenário a melatonina se mostra como uma alternativa terapêutica para melhorar a qualidade do sono dos indivíduos com TEA.

O presente estudo se trata de uma revisão sistemática de literatura e metanálise que objetiva avaliar os efeitos benéficos da melatonina em parâmetros do sono indicadores de sua qualidade. Esta revisão sistemática seguiu as recomendações do PRISMA e da Cochrane. Os seguintes critérios de elegibilidade foram adotados: estudos que mensuraram parâmetros do sono em indivíduos com TEA, voltados a indivíduos de 2 a 60 anos de idade, que avaliaram suplementação de melatonina, que utilizaram grupo controle e que especificaram dose e duração do tratamento. Foram utilizadas oito das principais bases de dados para a busca dos estudos, que após a remoção de duplicidades somaram 533 resultados. Após a avaliação para elegibilidade foram incluídos um total de 15 estudos. Os resultados da metanálise foram dados pelo Standard Mean Difference (SMD) e informado o Intervalo de Confiança (IC95%).

O presente estudo demonstrou efeitos da melatonina variados nos distúrbios do sono em pessoas com diagnóstico de TEA a depender do parâmetro mensurado. A melatonina apresentou efeito positivo em relação ao grupo controle nos parâmetros “Tempo Total de Sono” (SMD = 0,74; IC95% = 0,01; 1,48), “Latência de Início do Sono” (SMD = − 1,18; IC95% = − 1,94; − 0,42) e “Eficiência do Sono” (SMD = 1,12; IC95% = − 0,76; 3,00). A qualidade da evidência utilizada para chegar a essas conclusões foi tida como moderada devido a alta heterogeneidade dos achados. Por outro lado, a melatonina não apresentou efeito positivo em relação ao grupo controle nos parâmetros “Tempo Acordado Após o Início do Sono” (SMD = − 0,42; IC95% = − 1,75; 0,92) e “Despertares” (SMD = − 0.53; IC95% = − 1,27; 0,21). Além disso, a qualidade da evidência foi de muito baixa a baixa, respectivamente, nesses parâmetros.

A duração dos benefícios e qual o perfil dos indivíduos que mais se beneficiariam da intervenção com melatonina ainda é um dado incerto e com alguma variabilidade entre os estudos avaliados. O estudo sugere que os ensaios clínicos posteriores explorem melhor os subgrupos de indivíduos com TEA e que explorem a discriminação das diferentes dosagens de melatonina nas intervenções.

O presente estudo é importante para a formação de evidências científicas voltadas ao tratamento de alterações do sono em indivíduos com TEA. Os achados da metanálise indicam que a melatonina deve ser considerada uma alternativa no tratamento de distúrbios do sono nesse público, com ganhos significativos em diversos parâmetros do sono. É importante destacar que as medidas farmacológicas não devem ser a única via de atuação no tratamento de distúrbios do sono, sendo necessário a adoção de medidas comportamentais de higiene do sono.


Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.