A atitude religiosa afeta a doação e o transplante de órgãos?

 

Resenhado por Susana Santana

 

Soylu, D., Özdemir, A., & Soylu, A. (2022). Does religious attitude affect organ donation and transplantation?. Transplant Immunology, 71, 1-6. https://doi.org/10.1016/j.trim.2022.101555.

 

A doação de órgãos refere-se à permissão dada por um indivíduo, enquanto saudável, para o uso de seus órgãos e tecidos após a ocorrência de morte cerebral, por razões médicas documentadas e justificadas. Há pessoas que avaliam a doação de órgãos de forma positiva, mas podem não compreender o conceito de morte encefálica adequadamente. Além disso, quando a aprovação da doação está sob a responsabilidade de familiares, ela pode ser afetada por preocupações com os desejos do falecido, crenças religiosas, como também pelo desentendimento do que é a morte encefálica. Há indícios também de que as informações dadas pela equipe de saúde à família de um potencial doador são extremamente importantes na adesão à doação de órgãos. Mesmo diante de tantos fatores, a crença religiosa tem sido apontada como o principal aspecto que afeta a adesão à doação de órgãos.

Para explorar o tema na população da Turquia, o estudo em questão teve como objetivo verificar o efeito da atitude religiosa sobre a doação e o transplante de órgãos com 406 participantes, entre fevereiro e março de 2021. Para isso, foram aplicados em questionário sociodemográfico, Escala de Atitudes Religiosas e Escala de Atitudes de Doação de Órgãos. Dentre os participantes, 84% (n=341) eram mulheres, 76,82% (n=312) tinham entre 18 e 28 anos de idade, 92,1% (n=370) eram universitários e 71,7% (n=291) não estavam trabalhando. De posse dos dados, foram realizadas análises de correlação e regressão para determinar a associação entre crença religiosa e atitude de doação e transplante de órgãos.

Verificou-se que 86,0% declararam que ninguém próximo a eles havia sido submetido a transplante de órgãos, 92,6% que ninguém próximo a eles estava esperando por transplante de órgãos, 50,7% haviam recebido informações positivas de uma perspectiva religiosa sobre a doação de órgãos, 82,0% não haviam procurado informações sobre a doação de órgãos, 67,2% não haviam recebido nenhuma instrução sobre transplante de órgãos, 46% consideraram a instrução que se tinha sobre o tema suficiente, 66,7% conheciam o sistema de doação de órgãos e tecidos e 49,0% achavam que a aprovação oficial não era necessária para a doação de órgãos. As análises de correlação e regressão apontaram associação estatisticamente significativa entre a crença religiosa e a subdimensão do medo de negligência médica com a Escala de Atitude de Doação de Órgãos (p < 0,05).

Os autores concluíram que há relação entre a crença religiosa e a decisão de doar órgãos e que também se fez presente a preocupação com negligência médica nesse contexto. Foi recomendada a criação de equipe multidisciplinar, composta por profissionais de saúde e membros religiosos, para dar maior informação sobre o assunto à população. Estudos como esse, que envolvem a área da Psicologia da Saúde, contribuem com temas de saúde pública importantes. Entender os fatores psicossociais que afetam na atitude das pessoas frente a comportamentos de saúde, individuais e coletivos, pode favorecer o desenvolvimento de estratégias psicoeducativas visando o aumento da adesão a práticas positivas de saúde como: vacinação, doação de sangue, medula óssea e doação de órgãos.

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