Intervenções na personalidade

 

Resenha por Brenda Fernanda Silva-Ferraz

 

Jackson, J. J., Beck, E. D., & Mike, A. (2021). Personality interventions. In O. P. John & R. W. Robins (Eds.), Handbook of Personality: Theory and Research (pp. 793-805). Guilford Press.

 

Traços de personalidade estão prospectivamente associados a uma série de resultados importantes na vida em todas as idades, a exemplo da saúde, nível educacional, divórcio e sucesso no trabalho. O potencial de impactar muitos aspectos da vida tem despertado interesse no que diz respeito às políticas públicas. Frente a isso, destaca-se a importância de compreender a efetividade das intervenções na personalidade.

Existem algumas características que tornam interessantes as intervenções nos traços de personalidade, a saber: 1) associação com desfechos importantes de vida; 2) o fato de que os traços de personalidade são passíveis de mudança ao longo da vida; 3) o fato de que a personalidade costuma ser estável e consistente ao longo da vida, o que implica que, uma vez modificada mediante intervenção, os efeitos tendem a ser duradouros.

Apesar de as intervenções na personalidade parecerem promissoras, sua viabilidade ainda não está clara, e é importante se atentar a alguns aspectos. O primeiro deles é que existem desafios éticos ao se pensar a intervenção na personalidade, uma vez que esta costuma ser entendida como identidade e individualidade de uma pessoa. A segunda barreira para a viabilidade de intervenções na personalidade é que os processos subjacentes às mudanças de personalidade que ocorrem naturalmente são, em sua maioria, desconhecidos. Ainda que haja relativa aceitação de que as experiências podem mudar a personalidade, existem poucos eventos de vida que estão consistentemente associados a mudanças na personalidade.

Algumas intervenções podem ser pensadas de modo a modificar pensamentos, emoções e comportamentos. Consequentemente, podem vir a impactar a personalidade. São elas: programas parentais e escolares; programas para mitigar o comportamento antissocial em adolescentes; intervenções clínicas; intervenções psicofarmacológicas; fortalecimento de autocontrole; intervenções em saúde; treinamento cognitivo; dentre outros.

Questões ficam em aberto e nos direcionam para novas caminhos, a saber: que experiências são necessárias para modificar a personalidade? Quanto tempo devem durar essas intervenções? Há uma idade mais efetiva para as intervenções? Destaca-se, neste sentido, a importância de que mais estudos sejam realizados, especialmente os de delineamento longitudinal.

O capítulo conclui que existem diversas intervenções disponíveis, contudo, há uma lacuna de estudos clínicos randomizados, além de que não existem muitas evidências de validade sobre as intervenções. É papel da psicologia da saúde, portanto, identificar variáveis relevantes para modificar aspectos da personalidade, uma vez que esta está relacionada a importantes desfechos de saúde. Reconhecidos fatores de risco e proteção, podem-se pensar, então, em testes de modelos explicativos e em possíveis testes de intervenções, a fim de construir evidências confiáveis.   

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