Diferenças de idade e sexo em suicídio de adolescentes
Lee, S., Dwyer, J., Paul, E., Clarke, D., Treleaven,
S., & Roseby, R. (2019). Differences by age and sex in adolescent suicide. Australian
and New Zealand Journal of Public Health, 43(3):248-253. doi:
10.1111/1753-6405.1277
Resenhado por
Laís Gabriela Rocha
A prevalência de
suicídios entre jovens aumenta conforme a idade, ocorrendo durante um período
em que estes estão passando por mudanças biopsicossociais decorrentes da
transição da infância para a fase adulta. Dados na literatura apontam que há
diferenças na frequência e na natureza do ato suicida a depender da idade: a
proporção no comportamento entre homens e mulheres; adolescentes mais velhos
tendem a cometer suicídio no contexto de diagnóstico de transtornos mentais e
em problemas de relacionamentos; tipos de métodos diferentes e conflitos
familiares são mais relatados entre adolescentes mais novos. Na Austrália, o
suicídio é a primeira causa de morte entre adolescentes e entender suas
características pode auxiliar no desenvolvimento de estratégias preventivas. Este
estudo teve como objetivo comparar variáveis demográficas e psicossociais em
suicídios de adolescentes para perceber como os perfis mudam com as diferenças
de idade e sexo.
Os dados foram
coletados a partir de registros de suicídios de jovens entre 10 e 19 anos em
uma plataforma de dados australiana, a Coroners Court of Victoria (CCOV)
no período de 2006 a 2015. Foram levantados 273 casos, os quais foram divididos
pelas faixas de idade de 13 a 16 anos e 17 a 19 anos. O primeiro grupo teve 37%
(n = 102) dos casos e o segundo, 63% (n = 171). Os homens
compuseram 67% (n = 184) da amostra, enquanto as mulheres tiveram
números menores no total dos casos e concentraram-se nos números do grupo mais
jovem.
Cerca
de 40% dos casos apresentavam diagnóstico de algum transtorno mental, sem
diferenças significativas de idade ou sexo. Quase metade dos casos tiveram
intencionalidade demonstrada previamente através de discurso oral ou escrito.
Os métodos mais comuns, em ordem decrescente, foram: enforcamento, plataforma
de trem, pulo de locais altos e disparo por arma de fogo. Observou-se que em 87%
dos casos houve a presença de algum evento estressor precedendo o ato, sendo os
adolescentes mais novos propensos a terem sido expostos a abusos, conflito entre
pares e bullying. A presença de álcool foi detectada nos exames toxicológicos
em maior proporção no grupo com mais idade. As mulheres estiveram mais
propensas a demonstrar comportamentos autolesivos e tentativas prévias de
suicídio, além de terem sido vítimas de abusos, bullying e conflitos em
relacionamentos. O método mais comum entre elas foi o enforcamento, ao passo
que apenas homens utilizaram arma de fogo. Os resultados encontrados nesta
pesquisa corroboram com o “paradoxo de gênero”, que consiste na maior
prevalência de autolesão e tentativas de suicídio em mulheres e de suicídio
consumado entre os homens.
Algumas
limitações dessa pesquisa e comuns em outras que abordam a temática do suicídio
derivam da confiabilidade dos dados que por serem coletados postumamente são
fontes indiretas de informação fornecidas pelos familiares ou pessoas próximas.
Ademais, a presença de eventos estressores nos últimos seis meses foi um dado
considerado no estudo, mas não houve diferenciação da duração ou gravidade desses.
Este artigo se mostra importante para a psicologia da saúde por descrever características
que devem ser levadas em conta no desenvolvimento de estratégias para a
prevenção do suicídio, que podem ser específicas para diferentes gêneros e
faixas etárias. Além disso, destaca a importância do cuidado com pacientes
psiquiátricos, vítimas de abuso e usuários de substâncias como o álcool, os
quais estão bastante suscetíveis a reproduzir comportamentos de risco.
Conflitos interpessoais estiveram presentes em muitos casos, principalmente nas
mulheres e no grupo mais jovem, podendo trazer a resolução de problemas e
estratégias de enfrentamento como parte importante de intervenções.
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