Dinâmica de um evento estressante: avaliação cognitiva, enfrentamento e resultados do encontro
Folkman, S., Lazarus, R. S.,
Dunkel-Schetter, C., DeLongis, A., & Gruen, R. J. (1986). Dynamics of a
stressful encounter: Cognitive appraisal, coping, and encounter outcomes. Journal
of Personality and Social Psychology, 50(5), 992–1003. https://doi.org/10.1037/0022-3514.50.5.992
Resenhado por Lucila Moraes
No confronto de
uma situação estressora, a avaliação cognitiva e o coping
(enfrentamento) são os principais processos que mediam a relação entre ambiente
e o indivíduo, provocando repercussões à curto e longo prazo para seu bem-estar. Na avaliação cognitiva o sujeito interpreta o encontro
estressante, que ocorre em dois momentos: na avaliação primária analisa-se a
situação para determinar se ela é ameaçadora, desafiadora ou irrelevante para o
bem-estar, saúde ou integridade de si mesmo ou de pessoas estimadas; e na
avaliação secundária o indivíduo pondera seus próprios recursos e capacidades
de enfrentamento para poder gerenciar ou prevenir a ocorrência da situação.
O coping é um conjunto de esforços, cognitivos e
comportamentais, utilizado para lidar com situações avaliadas como excedendo os
recursos pessoais. Tal conceito apresenta duas grandes categorias funcionais: coping focado
no problema, que é o esforço para atuar na situação estressante tentando
modificá-la; e coping focado na emoção é a tentativa de regular o estado
emocional que é associado ao evento estressante. No geral, ambas estratégias
são usadas durante o processo de enfrentamento. Após o contato com evento estressor
o resultado imediato do encontro refere-se ao julgamento sobre até que ponto a
situação foi resolvida com sucesso. O julgamento geral é realizado a partir dos
valores do indivíduo e suas expectativas em relação aos vários aspectos do
encontro, ou seja, envolve mais que a resolução do evento e sim o quão adequado
foi a resolução a partir de cada crença individual.
Apesar da importância do conceito coping como fator de
saúde psicológica pouco se sabe sobre as variáveis que os influenciam e sua
relação com os resultados dos encontros estressantes que afetam as pessoas
cotidianamente. Logo, o objetivo principal do presente estudo é examinar
a relação funcional entre a avaliação cognitiva, os processos de enfrentamento
envolvidos e os resultados à curto prazo após eventos estressantes. Foi usada
uma abordagem intraindividual com 85 participantes adultos casados em que foi
analisado a relação entre a avaliação primária (o que está em risco diante do
encontro); avaliação secundária (o quanto os participantes entendiam a situação
como modificável ou não); foi usado o questionário Ways
of Coping, com o qual foi identificado 8 estratégias de enfrentamento variando
entre estilos focados na emoção e focados no problema. E, por fim, os
resultados dos encontros estressantes foram obtidos partir do relato dos
participantes após o evento ter ocorrido e divididos entre resultados
percebidos como ‘não satisfatórios’ e ‘resultados satisfatórios’.
Os resultados demonstraram que as formas de coping
usadas variaram a depender do que estava em risco. Por exemplo, participantes
que avaliaram encontros estressantes como ameaçadores para sua autoestima e
prejudiciais para pessoas estimadas adotaram estilos de coping de confrontação
(p.ex., ‘deixei meus sentimentos saírem de alguma forma’) e fuga-evitação, tal como
‘evitei estar com pessoas’. Já em situações envolvendo meta de trabalho o tipo
de coping mais usado foi de resolução de problemas, (p.ex., ‘fiz um
plano de ação e o segui’) e autocontrole (p.ex., ‘tentei manter meus
sentimentos para mim’). Além disso, o estilo de coping de confrontação demonstrou
maior relação com resultados percebidos como não satisfatórios e o estilo de coping
de resolução de problemas obteve forte associação com uma percepção
satisfatória de desfecho do problema. Por fim, o estudo ressalta a necessidade
de análises intraindividuais para compreender os processos de enfrentamento e o
seu impacto a longo prazo no bem-estar no contexto de encontros estressantes
específicos.
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