Autismo e depressão

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Hervás, A. (2023). Autismo y depresión: Presentación clínica, evaluación y tratamiento. Medicina (Buenos Aires), 83, 37-42.

Resenhado por Luíza Ramos

 

Os sintomas de autismo são frequentemente confundidos com depressão e tratados incorretamente na infância e adolescência, com a dupla consequência de não ter acesso a tratamentos adequados para autismo e de estar exposto a efeitos colaterais indesejáveis com tratamentos farmacológicos não indicados. Desregulação emocional, ruminação, compreensão literal de perguntas e dificuldades de comunicação afetam consideravelmente a avaliação, uma vez que a dificuldade de reconhecer e expressar as emoções podem interferir nos questionários autorrelatados e, portanto, não detectar o autismo. O objetivo do artigo foi analisar as características do autismo e da depressão quando coexistem e, com base nas evidências limitadas, fazer recomendações para avaliação e tratamento.

Uma metanálise estimou que a prevalência de depressão na população autista é cerca de quatro vezes maior em comparação com pessoas típicas. Sintomas frequentes de depressão no autismo são anedonia, desregulação emocional, alterações no padrão de sono ou alimentação, aumento do isolamento social, maior rigidez cognitiva, além de aumento da ideação suicida e do comportamento autolesivo em autistas adolescentes/adultos com depressão, com risco nove vezes maior de morrer por suicídio em comparação com aqueles sem autismo. A avaliação de depressão no autismo deve incluir entrevista clínica com uma história do desenvolvimento combinada com testes padronizados e um exame psicopatológico. A história evolutiva ajudará a compreender se sempre existiram sintomas associados ou que podem ser confundidos com depressão ou se ocorreram acontecimentos que produziram uma mudança com sintomas emocionais repentinos e alteração no funcionamento que indique quadro depressivo. Outro fator essencial para o diagnóstico é a avaliação das ruminações: se são recentes, podem estar associadas à depressão; se forem crônicas e rígidas, podem estar mais associadas ao autismo.

Dentre os instrumentos adequados para avaliação da depressão no autismo estão: The Autism Comorbidity Interview-Present and Lifetime, Children’s Interview for Psychiatric Symptoms, The Autistic Depression Assessment Tool, The Behavior Problems Inventory, Suicidal Behaviours Questionnaire - Autism Spectrum e Rumination: Ruminative Responses Scale. Não se pode presumir, devido à falta de estudos, que os tratamentos eficazes na depressão sem autismo sejam eficazes na depressão com autismo. Ademais, não existem ensaios clínicos farmacológicos no autismo e na depressão em crianças, nem evidências claras da eficácia dos antidepressivos no autismo.

Por fim, estudos como estes são importantes para a Psicologia da Saúde porque reúnem evidências acerca da saúde de grupos específicos, como o de pessoas autistas, permitindo maiores elucidações a respeito do adoecimento dessas pessoas, além de oferecer caminhos para estudos futuros e desenvolvimento de intervenções mais eficazes, relacionadas a comportamentos autolesivos e suicidas, por exemplo, capazes de interferir na saúde física dessas pessoas.

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