Setembro, mês do incentivo à doação de órgãos
Resenhado por Laurisson Albuquerque da Costa
O transplante de órgãos é uma forma de
tratamento para pessoas com doenças crônica avançada que consiste na reposição
de um órgão ou tecido com a finalidade de reestabelecer a saúde. O Brasil
possui um sistema consolidado de transplantes sendo o quarto país em número
absoluto em relação ao transplante renal e terceiro em relação ao hepático,
segundo dados da associação brasileira de transplante de órgãos (ABTO). Apesar
disso, existem muitos pacientes em lista de espera e uma necessidade de aumento
no número de transplantes. A taxa de doação no Brasil permanece muito baixa (26,9%) e ocasionada
especialmente por não autorização familiar e contraindicação médica (ABTO, 2022).
A pandemia de COVID-19 afetou negativamente o transplante
de órgãos no Brasil. Em 2022, quando comparado ao ano de 2019, houve uma
redução de 17,5% do número de transplante renal, 8,3% de transplante hepático, 24,4%
de pâncreas e 8% de córnea (ABTO, 2022); o que sugere outros fatores para a
redução da taxa de transplantes, para além da pandemia. Um estudo realizado no
nordeste do Brasil encontrou que a principal causa da não efetivação da doação
é a recusa familiar (49,4%), sendo as principais razões da recusa o desejo de
não doar do potencial doador durante a vida (23%), falta de consenso familiar
sobre doação (20,3%), recusa dos familiares (14,9%), o que alerta por
necessidade de uma melhor política de educação sobre o tema (Marinho et al., 2018).
A saúde mental dos pacientes em lista de espera para o
transplante pode
ser afetada de várias formas. Um estudo em pacientes em lista de espera para um
transplante hepático mostrou que 48% apresentavam sintomas obsessivos-compulsivos,
de depressão e ansiedade, e 92% estavam mal adaptados a doença. De forma semelhante,
uma revisão sistemática demonstrou que a estar em lista de espera de um rim de
doador falecido impacta o bem-estar psicológico das pessoas por influência de
vários fatores, tais como sintomas da doença, estresse e ansiedade relacionados
a diálise e a incerteza do tempo de espera na fila. Entretanto, se comparados
com pacientes não inscritos em lista de espera, havia um maior sentimento de
esperança, o que poderia auxiliar no melhor ajustamento psicológico (Burns et al., 2015; López-Navas et al., 2019).
Outro aspecto importante que requer
atenção é o acompanhamento pós-transplante. O bem-estar do paciente impacta diretamente
na aderência ao tratamento, especialmente no uso dos medicamentos
imunossupressores, fator importante para evitar a rejeição do órgão. Uma
revisão sistemática em pacientes pós-transplante de pulmão apontou uma melhora
na qualidade de vida, ansiedade, depressão e bem-estar, contudo, os efeitos
adversos dos imunossupressores podem afetar negativamente a percepção da
qualidade de vida (Seiler et al., 2016).
Portanto, o transplante de órgão constitui
a melhor forma de tratamento para diversas doenças, com um grande potencial
para melhoria da saúde física e mental.
É necessário um aumento de políticas de conscientização para população a
respeito da doação de órgãos e treinamento dos profissionais de saúde para
melhor assistência do potencial doador e familiares. Para psicologia da saúde, entender
os principais motivo para recusa da doação, a dinâmica e particularidades do
indivíduo lista de espera do pré-transplante e no acompanhamento
pós-transplante é de fundamental importância para o melhor seguimento dessa
população.
Associação Brasileira de Transplante de òrgãos.
(2022). Dimensionamento dos transplantes no Brasil e em cada estado
(2015-2022). In. Registro Brasileiro de Transplantes.
Burns, T., Fernandez, R., & Stephens, M. (2015). The
experiences of adults who are on dialysis and waiting for a renal transplant
from a deceased donor: a systematic review. JBI Database System Rev Implement Rep, 13(2), 169-211. https://doi.org/10.11124/jbisrir-2015-1973
López-Navas, A. I., Ríos, A., Vargas, Á., Pons, J. A.,
Martínez-Alarcón, L., Ruiz-Manzanera, J. J., . . . Parrilla, P.
(2019). Psychological profile and disease-coping strategies of patients on the
waiting list for liver transplantation. Cir Esp (Engl Ed), 97(6), 320-328. https://doi.org/10.1016/j.ciresp.2019.02.004
Marinho, B. B. O., Santos, A. T. F., Figueredo, A. S.,
Cortez, L. S. A. B., Viana, M. C. A., Santos, G. M., . . . Braga-Neto,
P. (2018). Challenges of Organ Donation: Potential Donors for Transplantation
in an Area of Brazil's Northeast. Transplant
Proc, 50(3), 698-701. https://doi.org/10.1016/j.transproceed.2018.02.055
Seiler,
A., Klaghofer, R., Ture, M., Komossa, K., Martin-Soelch, C., & Jenewein, J.
(2016). A systematic review of health-related quality of life and psychological
outcomes after lung transplantation. J
Heart Lung Transplant, 35(2),
195-202. https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.07.003
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