Avaliação psicológica no transplante renal pediátrico.


Faria Silva, A. L., & Ariente , L. C. (2022). Aspectos fundamentais para a avaliação psicológica no transplante renal pediátrico. Brazilian Journal of Transplantation, 25(4). Recuperado de https://bjt.emnuvens.com.br/revista/article/view/479

Resenhado por Danielle Alves Menezes

 

A intervenção psicológica em transplantes de órgãos é uma conduta frequente em psicologia hospitalar, o que implicaria não só atuação com o paciente, mas também com a família e profissionais de saúde envolvidos. A indicação para transplante nesses casos acontece quando há perda progressiva da função renal, das funções metabólicas, hormonais e homeostáticas correspondentes, estimando-se haver aumento da sobrevida e maior qualidade de vida para crianças e adolescentes com a doença em estágio final. A decisão clínica é sucedida pela inclusão do paciente em uma lista de espera nacional e compreende as fases do pré-operatório a todo o tratamento.

Visando caracterizar aspectos relevantes da avaliação psicológica para esses procedimentos, o estudo em tela realizou uma revisão integrativa analisando estudos constantes em bases de dados como SciELO, PubMed e BVS, nos casos de substituição renal em pacientes pediátricos. As buscas nas bases de dados retornaram sete artigos elegíveis para responder aos objetivos da pesquisa. O número de estudos selecionados revelou a dificuldade para generalizar os resultados e, ao mesmo tempo, chamar atenção para o fato de escassez de pesquisa sobre a temática. A análise de conteúdo conduzida no estudo identificou as seguintes categorias: falta de autonomia, autopercepção negativa, repercussões emocionais, implicações nas relações familiares e adesão.

Nos resultados, viu-se que  a avaliação psicológica não prescinde da atuação de outros profissionais, sendo necessária articulação interdisciplinar para uma assistência mais qualificada ao paciente e seus familiares. Quanto à categoria “falta de autonomia”, avaliou-se que a falta de comunicação gerou ansiedade e estresse nos pacientes. Analisou-se que a necessidade de informações é maior em adolescentes, se comparado a crianças, e que recursos tecnológicos são mediadores relevantes. Para avaliação psicológica, inferiu-se, a partir dos dados, ser importante conhecer aspectos emocionais, a compreensão e a motivação para o transplante, bem como as expectativas dos pacientes.

Outro aspecto psicológico identificado foi a autopercepção negativa: motivada, muitas vezes, pelas mudanças na aparência e na funcionalidade, pacientes pediátricos tendem a não se sentirem “normais”. Intervenções grupais favoreceram compartilhamento de experiências, desenvolvimento de habilidades sociais e da sensação de pertencimento, aspectos importantes para aumentar a resiliência em pacientes com essa faixa etária. A superproteção parental, como aspecto das relações familiares e adesão, identificou que o sentimento de culpa pelo processo de internação do doador foi um fator de risco ao bem-estar psíquico de crianças e adolescentes.

Demais repercussões emocionais se referiram a alterações no desenvolvimento, internações recorrentes, procedimentos dolorosos e prejuízo na frequência escolar. Pacientes relataram maior contato com emoções negativas, como ansiedade, tristeza, angústia, medo de o órgão ser rejeitado ou de falhas no tratamento. O estudo alerta que há maior suscetibilidade de receptores pediátricos a problemas de saúde mental como depressão, ansiedade, TDAH, atrasos no desenvolvimento corporal e neurocognitivo, que podem levar a uma baixa adesão.

O psicólogo deve monitorar cuidadosamente o funcionamento do paciente e intervir minimizando os riscos durante todo o tratamento em conjunto com a equipe. O conhecimento teórico-prático em psicologia da saúde certamente pode munir esse profissional com as melhores ferramentas, a fim de intervir de maneira eficaz, articulada, e correspondendo integralmente à complexidade das necessidades nesse nível de assistência em saúde.

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.