Representações sociais da doação de órgãos de doadores e não doadores

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Silva, D. S., da Silva Bousfield, A. B., Giacomozzi, A. I., Fiorott, J. G., & Bousfield, R. (2022). Representações sociais da doação de órgãos de doadores e não doadores. Interação-Revista de Ensino, Pesquisa e Extensão24(1), 83-96. https://doi.org/10.33836/interacao.v24i1.663

 

Resenhado por Maria Heloísa

 

O número de doadores de órgãos ainda é insuficiente para a demanda da fila de espera no contexto brasileiro. De modo geral, a expectativa de sobrevida de um receptor depende do transplante dos órgãos de um doador que tenha sido diagnosticado com morte encefálica. Para que haja a doação, é necessário o consentimento do ofertante, o que perpassa por posições ideológicas, alterações comportamentais e representações sociais. A teoria das representações sociais se baseia na concepção de que há, coletivamente, o compartilhamento de construções individuais. As representações podem atuar em três esferas atitudes do indivíduo; o campo, isto é, o conteúdo acerca de um objeto, e as informações sobre ele. Logo, o objetivo do estudo foi conhecer as representações sociais acerca da doação de órgãos em moradores de Santa Catarina.

A amostra foi composta por 564 respondentes. Foram incluídas pessoas com idade superior a 18 anos, estudantes universitários e da pós-graduação de Santa Catarina. Adotou-se como critério de exclusão os profissionais especializados no transplante e captação de órgãos. A coleta on-line ocorreu em agosto de 2018, por meio de um questionário semiestruturado com questões fechadas sobre dados sociodemográficos e informações individuais sobre a doação de órgãos, além de uma questão aberta sobre o que a pessoa pensa acerca da doação. A análise de dados foi feita por meio do cálculo da frequência absoluta e relativa das variáveis, com uso do teste qui-quadrado para identificar a associação entre as respostas, com uso do software R. Foi realizada uma análise hierárquica descendente por meio do IRaMuTeQ, com as seguintes variáveis: tipo de doador, sexo, idade e religião.

As mulheres foram participantes predominantes na amostra (86,2%), com idade entre 36 e 45 anos. A maior parte pertencia à religião católica (38,2%) e era pós-graduada em ciências humanas. Apenas quatro pessoas eram doadoras e tinham vivência direta com a recepção de órgãos em familiares. Na análise de frequência de palavras, foi identificada a representação simbólica da doação de órgãos vinculada às palavras: “importante”, “ser”, “poder” e “salvar”. A partir da análise por Classificação Hierárquica Decrescente (CDH), os textos foram divididos em quatro classes de contextos lexicais. As classes 1, 2 e 3 formaram o corpus de "doação de órgãos" em oposição à classe 4. A classe 1 foi denominada como “salvar” e englobou um valor social associado ao seu conteúdo, tendo a palavra “importante” como predominante nas respostas. Doadores e pessoas sem religião definidas foram associadas ao grupo. A classe 2, associada a cristãos e doadores de órgãos, foi nomeada de “continuidade da vida” e teve como conteúdo a “esperança”, “manutenção da vida” e o “corpo”.  A classe 3 foi constituída por crenças relacionadas a noção de morte, e escolhas determinadas pelo dever e pela família, sendo associada a não-doadores de órgãos. Por fim, na classe 4, denominada como afetiva, os respondentes apresentaram conteúdos associados a sentimentos e valores como o “amor”, a “compaixão” e a “solidariedade”, não sendo vinculada a nenhuma variável.

A CHD permitiu a identificação de que a representação social da doação de órgãos está vinculada a uma dimensão afetiva e que não havia um perfil único de doador na amostra. Também foi observado que a recusa, associou-se às crenças, à ausência de informação e à obrigação moral. Identifica-se que o estudo é importante para a Psicologia da Saúde, pois as representações sociais encontradas podem ser utilizadas em ações de psicoeducação. Assim, a atuação do psicólogo pode possibilitar o aumento da informação na população geral, assim como a ampliação de comportamentos de saúde em relação à doação de órgãos.


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