Comportamento suicida na pandemia por COVID-19

 

Rocha. D. M., Oliveira, A. C., Reis, R. K., Santos, A. M., Andrade, E. M. & Nogueira, L.T. (2022). Comportamento suicida durante a pandemia da COVID-19: Aspectos clínicos e fatores associados. Acta Paulista de Enfermagem(35); eAPE02717. doi:10.37689/acta-ape/2022AO02717

Resenhado por Danielle Alves Menezes

 

A literatura científica referente à crise sanitária provocada pela pandemia da COVID-19 já identificou aumento do sofrimento psicológico na população por intensificar o estresse e implicar, com frequências, em quadros como depressão e sintomas ansiosos. Dentre as expressões de transtornos mentais associados, há uma preocupação especial com a tendência ao aumento do comportamento suicida nesse período. Comportamento suicida é um espectro resultante da interação entre fatores biopsicossociais, genéticos, culturais e ambientais. Envolve a ideação, o planejamento, a tentativa e a morte por suicídio. O estudo apresentado teve como objetivo analisar os aspectos clínicos e os fatores associados ao comportamento suicida durante a pandemia da COVID-19 por meio da análise de 130 registros de atendimento em uma emergência psiquiátrica no Brasil, no período de dezembro de 2020 a março de 2021.

Análise de variáveis sociodemográficas identificou que houve predominância do sexo feminino em mais da metade dos casos (53,1%), com média de idade de 34,9 anos de idade, solteiros, ensino médio completo e renda entre 1-2 salários mínimos. Comportamento mais predominante foi a tentativa de suicídio (51,5%), por intoxicação exógena (20,0%), seguido da ideação (40,0%) e planejamento (8,5%). Sintomas psicológicos mais salientes foram de ansiedade (40,6%), depressão (28,8%) e sentimentos de desesperança (20,5%). A grande maioria já apresentava transtorno mental (81,5%), quase metade dos pacientes tiveram internações psiquiátricas prévias (49,2%), já haviam tentado suicídio (48,5%), e apresentaram crises diretamente associadas ao contexto da pandemia (49,2%). Mais da metade consumiu substâncias psicoativas de forma abusiva (60,0%). Utilizando razão de chance, o estudo apresentou que o uso dessas substâncias elevou mais de 10 vezes (13,8) a chance de pessoas tentarem suicídio.

Em resumo, o conjunto dos dados demonstrou que mulheres e populações socialmente vulneráveis estiveram mais expostas, evidenciando um grupo de risco a ser considerado nas ações em saúde mental. Os sintomas psicológicos verificados já foram ressaltados em outros estudos, indicando que é de conhecimento amplo as repercussões em saúde mental associadas a crises sanitárias, porém é evidente a negligência desses aspectos no planejamento estratégico de enfrentamento nessas situações.

Por fim, faz-se necessário uma mudança de perspectiva do gerenciamento de risco em situações de emergência em saúde pública, em que seja possível incluir a análise de preditores individuais, biológicos, ambienteis, sociais, clínicos e psicológicos relevantes para o comportamento suicida, aliadas a medidas de prevenção. Nesse sentido, o conhecimento básico e aplicado em psicologia da saúde pode contribuir substancialmente para reconstrução e reestabelecimento das comunidades diretamente prejudicadas pelas consequências da pandemia, favorecendo a melhora da saúde mental global.

 

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