Comportamento suicida na pandemia por COVID-19
Resenhado por
Danielle Alves Menezes
A
literatura científica referente à crise sanitária provocada pela pandemia da
COVID-19 já identificou aumento do sofrimento psicológico na população por
intensificar o estresse e implicar, com frequências, em quadros como depressão
e sintomas ansiosos. Dentre as expressões de transtornos mentais associados, há
uma preocupação especial com a tendência ao aumento do comportamento suicida
nesse período. Comportamento suicida é um espectro resultante da interação
entre fatores biopsicossociais, genéticos, culturais e ambientais. Envolve a ideação,
o planejamento, a tentativa e a morte por suicídio. O estudo apresentado teve
como objetivo analisar os aspectos clínicos e os fatores associados ao
comportamento suicida durante a pandemia da COVID-19 por meio da análise de 130
registros de atendimento em uma emergência psiquiátrica no Brasil, no período de
dezembro de 2020 a março de 2021.
Análise
de variáveis sociodemográficas identificou que houve predominância do sexo
feminino em mais da metade dos casos (53,1%), com média de idade de 34,9 anos
de idade, solteiros, ensino médio completo e renda entre 1-2 salários mínimos.
Comportamento mais predominante foi a tentativa de suicídio (51,5%), por
intoxicação exógena (20,0%), seguido da ideação (40,0%) e planejamento (8,5%).
Sintomas psicológicos mais salientes foram de ansiedade (40,6%), depressão
(28,8%) e sentimentos de desesperança (20,5%). A grande maioria já apresentava
transtorno mental (81,5%), quase metade dos pacientes tiveram internações
psiquiátricas prévias (49,2%), já haviam tentado suicídio (48,5%), e
apresentaram crises diretamente associadas ao contexto da pandemia (49,2%).
Mais da metade consumiu substâncias psicoativas de forma abusiva (60,0%).
Utilizando razão de chance, o estudo apresentou que o uso dessas substâncias
elevou mais de 10 vezes (13,8) a chance de pessoas tentarem suicídio.
Em
resumo, o conjunto dos dados demonstrou que mulheres e populações socialmente
vulneráveis estiveram mais expostas, evidenciando um grupo de risco a ser
considerado nas ações em saúde mental. Os sintomas psicológicos verificados já
foram ressaltados em outros estudos, indicando que é de conhecimento amplo as
repercussões em saúde mental associadas a crises sanitárias, porém é evidente a
negligência desses aspectos no planejamento estratégico de enfrentamento nessas
situações.
Por
fim, faz-se necessário uma mudança de perspectiva do gerenciamento de risco em
situações de emergência em saúde pública, em que seja possível incluir a
análise de preditores individuais, biológicos, ambienteis, sociais, clínicos e
psicológicos relevantes para o comportamento suicida, aliadas a medidas de
prevenção. Nesse
sentido, o conhecimento básico e aplicado em psicologia da saúde pode
contribuir substancialmente para reconstrução e reestabelecimento das
comunidades diretamente prejudicadas pelas consequências da pandemia,
favorecendo a melhora da saúde mental global.
Nenhum comentário: