Estigma em pacientes admitidos em urgência/emergência por tentativa de suicídio: análise de estudantes e profissionais da saúde a partir de casos hipotéticos
Dória, A. R., & Faro, A. (2017). Estigma em
pacientes admitidos em urgência/emergência por tentativa de suicídio: Análise
de estudantes e profissionais da saúde a partir de casos hipotéticos. Salud
& Sociedad, 8(3), 200-215. doi:10.22199/SO7187475.2017.0003.00001.
Resenhado por
Uquênia Lemos
Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS, 2015), mais de 800 mil pessoas morreram em decorrência do suicídio em
2015. No Brasil, a taxa de suicídio cresceu cerca de 60% nos últimos 45 anos. A
literatura mostra que pacientes admitidos em urgências/emergências por
tentativa de suicídio podem sofrer negligência, hostilização ou outras
características negativas durante o atendimento e permanência hospitalar,
devido aos estigmas existentes no comportamento dos profissionais da saúde.
Estigma é definido como a atribuição de estereótipos negativos que marca o
indivíduo. Sendo assim, essa pesquisa objetivou analisar, segundo estudantes e
profissionais da saúde, estigmas que perpassam o atendimento ao paciente
admitido na emergência/urgência por tentativa de suicídio.
Para tanto, foram criados
hipoteticamente três cenários de estudo (CEs), com cinco casos clínicos, dentre
eles uma vítima de tentativa de suicídio. Os CEs variavam de acordo com o tipo
de deliberação da causa da internação. Na deliberação ativa (DA), atribui-se ao
indivíduo internado a culpa direta e intencional pelo seu adoecimento. Na
deliberação passiva (DP) o paciente é culpado indiretamente com base na ideia
de que o desfecho não é intencional. Já o
cenário AC (aproximação do cotidiano) se refere aos casos rotineiros observados
em atendimentos de pronto-socorro. A partir destes CEs criou-se uma situação
fictícia sendo informado aos profissionais de saúde que os pacientes precisavam
de suporte de ventilação mecânica (VM), contudo só havia três disponíveis.
Desta forma, cabia aos participantes estabelecer uma ordem de prioridade, que
variou do 1º ao 5º lugar de recebimento da VM entre os pacientes. Os
participantes classificaram apenas um CE e não sabiam da existência dos outros.
Participaram do estudo 174 profissionais e estudantes das áreas de medicina e
enfermagem, sendo 135 mulheres e 39 homens, com uma média de idade de 29,5
anos.
Inicialmente se constatou uma média
limítrofe de prioridade do paciente que dá entrada na urgência por tentativa de
suicídio, o equivalente a 2,9 (DP=1,40). Comparando as médias de
colocação de cada paciente vítima de tentativa de suicídio com cada um dos CEs,
observou-se uma significância estatística. O paciente vítima de tentativa de
suicídio no cenário de DA apresentou a média mais baixa (M=1,7; DP=1,10)
e mais alta nos de DP (M=3,5; DP=1,20) e no de AC (M=3,4; DP=1,14).
Assim, percebe-se que não houve diferença significativa entre DP e AC (p>0,05).
Nestes cenários o paciente ficaria acima da terceira posição, não sendo
considerado prioridade para receber a VM, enquanto que no contexto do DA, a
vítima de tentativa de suicídio receberia a VM, pois ficou entre a primeira e a
segunda posição. Essa diferença verificada na média de priorização do paciente
que tentou suicídio por CEs mostra que os estigmas direcionados às vítimas de
tentativa de suicídio não é estático e que a estigmatização por parte de
profissionais da saúde depende de influências externas.
Enfim, entende-se que para diminuir a
estigmatização sobre o paciente vítima de tentativa de suicídio se faz
necessário promover mais conhecimento e capacitação dos profissionais da saúde,
assim como buscar entender as consequências negativas que a estigmatização pode
exercer sobre tais pacientes.
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