Relação entre gênero e papel do cuidador no processo de adoecimento na infância
Brito,
A., Dantas, A. C., & Faro, A. (2017). Quem cuida do filho? Gênero, papel de
cuidador e adoecimento na infância. In Faro, A., Cerqueira-Santos, E., Silva,
J. P. Gênero, Violência e Saúde (pp. 193-209), São Cristóvão: Editora UFS.
Resenhado por Daiane Nunes
A doença crônica é determinada por
uma ou mais das seguintes características: ser permanente, produzir incapacidade
e/ou deficiência residuais, ser causado por alterações patológicas
irreversíveis, exigir uma formação especial do doente para a reabilitação, bem
como longos períodos de supervisão, observação e cuidados. Na população
infanto-juvenil a condição é um estressor que por si só produz impactos no
desenvolvimento normal da criança ou adolescente, trazendo consequências também
na dinâmica e nas relações familiares. Nesse contexto, o principal cuidador,
geralmente representado pela figura materna, precisa lidar com sentimentos de
medo, insegurança, desconforto, culpa e tensão, que refletem significativamente
na sua saúde mental.
O trabalho em questão teve como
objetivo analisar a relação entre gênero e papel do cuidador no processo de
adoecimento na infância, buscando demonstrar as principais diferenciações nos
papéis parentais e as peculiaridades do cuidado materno e paterno nas temáticas
do autismo e do diabetes. Para tanto, na primeira parte os autores discutiram a
relação entre parentalidade, gênero e cuidado, evidenciando como fatores
relacionados aos papéis de gênero implicam nas práticas de cuidado. Na segunda
e terceira parte, por sua vez, foi realizada uma análise entre gênero e papel
do cuidador em relação ao autismo e ao Diabetes Mellitus Tipo 1.
Diferentes aspectos contribuíram com
as mudanças em torno da noção de parentalidade, como o movimento feminista, o
desenvolvimento de métodos contraceptivos e a entrada da mulher no mercado de
trabalho, colaborando assim, com maior envolvimento da figura paterna nos
processos educativos e de cuidado dos filhos. Contudo, na sociedade atual, as
responsabilidades familiares e o papel de principal cuidador ainda seguem sendo
prioritariamente desempenhados pelas mulheres/mães, apesar da evidência de que
a participação ativa de ambos os pais são essenciais para o bem-estar de seus
filhos.
Trazendo essa discussão para o
cuidado em saúde, especificamente, no autismo e no diabetes, observa-se que as
mães também costumam ser as principais cuidadoras, contribuindo muitas vezes
com o abandono de suas carreiras profissionais, embora
estas demonstrem satisfação em poder proporcionar cuidados especiais aos seus
filhos. Essa vivência produz altos níveis de estresse nas mães, trazendo
impactos substanciais para sua saúde mental. No entanto, o sofrimento
psicológico também é observado na figura paterna apesar deste não ser o
principal cuidador de seus filhos. O envolvimento paterno no tratamento do
diabetes, por exemplo, aumentou o estresse parental e a ansiedade dos pais,
apesar de ter apresentado impacto positivo no bem-estar da criança e do
funcionamento familiar. No autismo, por sua vez, o cuidado direto da figura
paterna produziu implicações positivas na saúde mental das mães, na afetividade
do casal e no desenvolvimento do filho.
Em suma, destaca-se a importância de
entender os papéis de gêneros e o impacto do cuidado na vida do cuidador e da
própria criança, levando em consideração que a qualidade de vida do cuidador
exerce papel importante na saúde e no bem-estar do indivíduo cuidado. Ressalta-se,
ainda, a relevância do desenvolvimento de pesquisas que visem entender o
estresse, as estratégias de enfrentamento empreendidas e o cuidado em processos
de adoecimento com caráter de cronicidade, a exemplo do autismo e do diabetes Mellitus Tipo 1.
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