A experiência de solidão e a rede de apoio social de idosas

Carmona, C. F., Couto, V. V. D., & Scorsolini-Comin, F. (2014). A experiência de solidão e a rede de apoio social de idosas. Psicologia em Estudo19(4), 681-691. doi:10.1590/1413-73722395510

Resenhado por Mariana Menezes

- O que é que você traz aí? perguntou ele.
- O jantar, respondeu o rapaz. Vamos jantar.
- Não tenho fome.
- Mas você precisa comer. Não pode ir à pesca sem comer.
- Já comi, murmurou o velho, levantando-se e dobrando o jornal. Depois começou a dobrar também a manta.
- Ponha a manta nas costas, disse o rapaz. E fique sabendo que, enquanto eu for vivo, você não irá à pesca sem comer.
(Trecho retirado do livro “O velho e o mar” de Ernest Hemingway (1962)).

Solidão é um sentimento de insatisfação provocado pela ausência ou afastamento de pessoas queridas. Esse sentimento também pode se instalar quando a própria pessoa se isola tornando-se distante das demais. A solidão é considerada uma reação afetiva penosa e dolorosa que resulta em grande carência emocional. Na velhice, experiências de perdas costumam ser comuns, o que consequentemente pode levar à solidão. Desta forma, a solidão se configura como um grave problema entre os idosos, pois é possível que resulte em declínio da saúde mental e aumente o risco de depressão, abuso de substâncias químicas e tentativas de suicídio.
Em virtude do processo de envelhecimento é comum que ocorra uma redução nos contatos sociais dos idosos. É possível que devido as limitações físicas e/ou mentais que eles enfrentam, sejam deixados de lado e recebam menos atenção de pessoas significativas. Isso pode levar o idoso a se sentir excluído e desamparado. A formação de vínculos com outras pessoas ao longo da vida é muito importante e, na terceira idade, não é diferente, pois o apoio oferecido por outros é fundamental para a saúde e bem-estar do idoso. No entanto, o modo como o idoso encara a solidão em sua vida (como algo negativo ou positivo) parece depender do quanto está satisfeito com seus relacionamentos interpessoais e não necessariamente com a quantidade de vínculos que ele estabelece.
A presente pesquisa teve como objetivo investigar o sentimento de solidão em mulheres idosas, bem como o papel da rede de apoio social na vivência dessa fase do ciclo vital. Tratou-se de um estudo de casos coletivos, de caráter qualitativo e corte transversal. Participaram cinco idosas com idade média de 71,2 anos e foram utilizados um questionário sociodemográfico, entrevista semiestruturada e diagrama de escolta.
De acordo com os resultados, a rede de apoio social das idosas foi composta basicamente por familiares, amigos, vizinhos e grupos religiosos. As participantes avaliaram a solidão ora com um sentimento negativo, como a experiência de estar só, ora como algo que enriquece e impulsiona para uma vida agradável, por propiciar um contato com a individualidade e atividades prazerosas realizadas sem a presença de outros. Além disso, a manutenção de vínculos e atividades sociais se constituiu como um fator protetivo em relação à solidão.
Em síntese, idosos podem encarar a solidão, quando ela se faz presente, de forma positiva ou negativa, o que pode acabar interferindo no modo como irão lidar com este sentimento, isolando-se ou buscando ampliar sua rede de apoio social, por exemplo. Investigar a solidão na velhice é importante para a Psicologia da Saúde, sobretudo, no campo de atenção a saúde do idoso, ao passo que se não for manejada de maneira adequada, a solidão pode prejudicar a saúde dos idosos desencadeando problemas graves como depressão e suicídio.

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