Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de ansiedade: Relato de caso
Oliveira, M. I. S. D. (2011). Intervenção
cognitivo-comportamental em transtorno de ansiedade: relato de caso. Revista
Brasileira de Terapias Cognitivas, 7(1), 30-34.
Resenhado por
Maísa Carvalho
A Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC),
criada por Aaron Beck e especialmente difundida por sua sucessora Judith Beck,
objetiva tratar as desordens psicológicas mediante a reestruturação cognitiva e
comportamental, promovendo uma maior autonomia e consciência do sujeito a
respeito de seus pensamentos e ações. No transtorno de ansiedade, as
intervenções cognitivo-comportamentais comumente empregadas são: psicoeducação,
identificação dos pensamentos automáticos (PAs) e das emoções, a identificação
das crenças centrais e intermediárias, identificação de erros cognitivos, a
reestruturação cognitiva, a resolução de problemas e a avaliação do processo.
O presente estudo trata-se de um relato de
caso de um paciente do sexo masculino, de nome fictício João, 30 anos,
solteiro, desempregado há cerca de 01 ano e que reside em companhia do irmão,
cunhada e três sobrinhos em virtude da perda do emprego. Anteriormente, o rapaz
residia com a mãe e dois irmãos mais novos. Após a mudança residencial, João
passou a desenvolver um transtorno de ansiedade moderado, apresentando sintomas
de taquicardia, sudorese excessiva, tonturas, insônia, dores de cabeça e
cólicas intestinais. O paciente chegou até a autora do estudo - profissional
integrada à uma Unidade Básica de Saúde (UBS) - após diversos encaminhamentos
médicos. Feita a escuta e proposta de contrato, deu-se início as sessões. Nesse
caso, o processo durou 12 semanas.
A primeira sessão consistiu na realização
da psicoeducação sobre a TCC e do transtorno, focando em seus sintomas,
pensamentos automáticos, principais erros cognitivos do ansioso e tarefas de
casa. Além disso, a psicoterapeuta ressaltou a importância da postura ativa do
paciente em seu processo terapêutico. Na segunda, explicou-se a conceituação
cognitiva e treinou junto ao paciente o preenchimento de um formulário em que ele
deveria relatar a situação ansiogênica, o PA emergente, a emoção e
comportamento advindos. Nas sessões subsequentes, foram exploradas tarefas de
casa que facilitassem a identificação de PAs, emoções e crenças disfuncionais,
a fim de tornar João consciente acerca da relação entre as esferas cognitiva,
sentimental e comportamental.
Nas quatro sessões após a conceituação, foram
feitos treinos de respiração diafragmática e relaxamento progressivo em cada
sessão, bem como a identificação das principais distorções cognitivas de João,
que costumava interpretar os eventos basicamente através de dois desses vieses:
catastrofização, e generalização. Cada erro era discutido
com o paciente e os eventos eram questionados com base em interpretações
realistas. Nas sessões seguintes e finais, o trabalho concentrou-se na
discussão das principais preocupações de João, as baseadas na realidade e nas
distorções cognitivas, sendo que a maior delas era a falta de emprego. Foram
discutidos os possíveis trabalhos (empregados e autônomos), bem como as
vantagens e desvantagens de cada um. O paciente trouxe ao setting a ideia de vender água, que, juntamente com a
psicoterapeuta, avaliou essa proposta como positiva. Ao final do tratamento,
percebeu-se uma redução significativa dos sintomas ansiosos, aumento do
bem-estar em seu novo emprego e o empoderamento do paciente em suas decisões.
Em
virtude do seu caráter prático, objetivo e empírico-colaborativo, a TCC vem
sendo amplamente utilizada no tratamento psicoterapêutico de diversos
transtornos mentais. Assim, considera-se importante para a Psicologia Clínica e
da Saúde a produção de mais estudos empíricos com este e outros transtornos, com
o intuito de obter mais evidências a respeito da eficácia dessa abordagem,
especialmente nos serviços públicos de saúde.
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