O diagnóstico das crianças com doença falciforme: Desafios e perspectivas do enfrentamento
Ataide, C. A., & Ricas,
J. (2016). O diagnóstico das crianças com doença falciforme: desafios e
perspectivas do enfrentamento. Interfaces
Científicas-Saúde e Ambiente. 4(2),
19-28. doi: 10.17564/2316-3798.2016
Resenhado por Uquênia Lemos
A doença falciforme é uma anemia
hemolítica, decorrente da presença de uma hemoglobina anormal - conhecida como
Hemoglobina S -, que tem característica genética e varia com a idade, sendo sua
evolução clínica considerada crônica. No Brasil, a anemia falciforme é considerada
um problema de saúde pública, pois apresenta alta taxa de morbimortalidade e
diversas complicações clínicas. Em virtude da gravidade clínica, foi implantado
no Brasil o diagnóstico precoce das hemoglobinopatias por meio da Triagem
neonatal, mais conhecido como Teste do Pezinho. A precocidade do diagnóstico
passa a ser um diferencial para o tratamento da anemia falciforme, todavia,
ainda demanda uma análise das implicações psicossociais dessa doença no
contexto familiar. Sendo assim, o presente estudo buscou analisar as principais
reações do diagnóstico da doença falciforme, bem como os principais enfrentamentos
e desafios mediante o processo de adoecimento para as famílias.
Participaram
do estudo 12 mães/e ou responsáveis diretas, as quais precisavam ter uma
convivência mínima de 6 a 14 meses com a criança que fora diagnosticada com
doença falciforme por meio da triagem neonatal. Foi detectada uma falta de
participação da figura paterna durante as consultas e no tratamento das
crianças, além de um nível social baixo dessas famílias. Para a coleta dos
dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas, mediante o critério de saturação. Segundo
este método, o número ideal de entrevistas é alcançado quando as respostas
começam a ser repetidas pelos novos indivíduos que vão integrando a amostra.
Os dados foram analisados pela técnica de
análise de conteúdo utilizando o
processo de triangulação, que consiste na combinação e no cruzamento de diversos
pontos de vista através do trabalho conjunto de vários pesquisadores, de
múltiplos informantes e de múltiplas técnicas de coleta de dados, conferindo
assim uma maior validade ao estudo. O instrumento utilizado para categorização
e organização dos resultados, foi a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo
(DSC), dos quais foram categorizados quatro temas centrais: sentimentos e
reações no recebimento do diagnóstico; percepções sobre a comunicação do
diagnóstico e a compreensão acerca da doença; principais mudanças, dificuldades
e preocupações da família após o diagnóstico da doença falciforme e estratégias
de enfrentamento da família para melhor aceitação da doença.
Nos resultados, observou-se que assim como
em outras patologias, os indivíduos trouxeram o sofrimento psicológico das
diversas adaptações, mudanças, inseguranças e limitações que são provocadas
pelo diagnóstico da doença falciforme, além das questões sociais, tais como
desemprego, baixo poder aquisitivo e desestruturação familiar, que intensificam
ainda mais o impacto do diagnóstico.
Devido aos desajustes emocionais que as
cuidadoras enfrentam no momento do diagnóstico da doença falciforme, percebeu-se
a necessidade de que as questões psicossociais da família sejam consideradas e
assistidas para fins de compreensão da repercussão da enfermidade, elaboração
de conflitos, reestruturação da convivência e dos cuidados com a criança.
Assim, ressalta-se a importância da psicologia da saúde promovendo pesquisas e,
sobretudo, intervenções voltadas às estratégias de enfrentamento e orientação
emocional às famílias afetadas.
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