A formação em Psicologia e o profissional da Saúde para o SUS (Sistema Único de Saúde)

Guareschi, F. M. N., Dhein, G., Dos Reis, C., Machry, S. D., & Bennemann, T. (2009). A formação em psicologia e o profissional da saúde para o SUS (Sistema Único de Saúde). Arquivos Brasileiros de Psicologia, 61, 3, 35-45.

Resenhado por Renata Elly Barbosa Fontes

A psicologia é uma profissão regulamentada no Brasil desde 1962. Inicialmente, teve sua formação vinculada às faculdades de filosofia, mas, atualmente, vê-se uma aproximação com as ciências humanas, além de um paralelo com a área da saúde. Neste artigo, os autores discutem de que maneira a formação em psicologia e os currículos das universidades atendem a demanda da formação profissional para a saúde pública, trabalhando os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em um primeiro momento, a formação do psicólogo estava voltada para a psicometria e a psicologia organizacional em virtude da crescente industrialização. Em 1988, com o surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS), a formação passa a operar em outra lógica, não somente a assistencial e de atenção aos trabalhadores, mas também visando a prevenção, promoção e recuperação em saúde. A partir disso, os cursos da área da saúde tiveram que reformular seus currículos para atenderem a essa outra lógica de cuidado em saúde.
Segundo os autores do estudo, o currículo está além de um conjunto de disciplinas que compõem toda a atividade escolar, sendo na verdade, uma prática cultural com significações políticas. O estudo em questão teve como objetivo discutir o currículo de cursos de psicologia de universidades do Rio Grande do Sul, para isso, o autor mapeou três eixos, estudando como os currículos das universidades constituíram. O primeiro estaria entre as disciplinas biomédicas, o segundo atenta-se a psicopatologia e a avaliação psicológica, o terceiro situa-se na psicologia social e comunitária.
No primeiro eixo, o autor discursa sobre a incorporação da medicina na psicologia, ou seja, como essa formação influencia a do psicólogo. O modelo biológico costuma concentrar-se em estudos dos transtornos e a compreensão do tratamento de doenças, por isso, a dificuldade de estabelecer nos currículos de psicologia a formação de um profissional de saúde para o SUS que pense a concepção de saúde não fundamentada na dicotomia de saúde/doença. Os currículos com ênfase nessa dicotomia passam a privilegiar também a ênfase no segundo eixo, a avaliação psicológica e as psicopatologias, com investimento em testes psicológicos dando identidade a profissão, uma vez que são de uso único de psicólogos, inserindo a noção de cientificidade na psicologia no desenvolvimento desses instrumentos e colaborando com o estudo epidemiológico que identifica principalmente grupos de riscos e populações vulneráveis.
Com o intuito também de abarcar a multiplicidade dos sujeitos e seus modos de interagir com o mundo, há também o movimento da psicologia social e comunitária nos currículos, possibilitando alguma formação para que o profissional de psicologia atue na inserção das práticas psi nas políticas públicas, auxiliando na construção do exercício da cidadania e nas causas dos Direitos Humanos.
Para os autores, a formação em psicologia, principalmente na psicologia da saúde, deveria abarcar com maior profundidade as diretrizes do SUS, uma vez que nesse novo modelo proposto na saúde pública, a ausência de doença não define saúde. Os currículos também deveriam priorizar na formação em psicologia um olhar integral que abarque os diversos contextos sociais e culturais que os indivíduos estão inseridos, no mais, a saúde coletiva, o que aponta Bernardes (2016), é o encontro da psicologia com a política.

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