Classificação, avaliação, prevalência e efeito do transtorno de personalidade / Classification, assessment, prevalence, and effect of personality disorder


Tyrer, P., Reed, G. M., & Crawford, M. J. (2015). Classification, assessment, prevalence, and effect of personality disorder. The Lancet, 385(9969), 717-726. doi: 10.1016/S0140-6736(14)61995-4

Resenhado por Geovanna Turri

Transtornos de personalidade são comuns em todos os ambientes médicos, portanto, serão encontrados diagnósticos com frequência. As pessoas com transtorno de personalidade têm problemas nos relacionamentos interpessoais, mas geralmente as atribuem erroneamente aos outros. Nenhum limiar claro existe entre os tipos e graus de disfunção de personalidade e sua patologia é melhor classificada por uma única dimensão, variando de personalidade normal em um extremo até transtorno de personalidade grave no outro.
A descrição dos transtornos de personalidade tem sido complicada ao longo dos anos pela adesão indevida a categorias sobrepostas e não validadas que representam características específicas, em vez de componentes centrais do transtorno de personalidade. Tyrer, Reed e Crawford (2015) ressaltam que muitas pessoas com transtorno de personalidade permanecem indetectáveis ​​na prática clínica e podem receber tratamentos ineficazes. O distúrbio de personalidade afeta muito a interação entre profissionais de saúde e pacientes, é um forte preditor do resultado do tratamento e da mortalidade prematura, além de ser considerado um grande custo para a sociedade. Portanto, ele deve ser parte importante de toda avaliação psiquiátrica, a fim de buscar tratamentos adequados para o paciente e identificar possíveis comorbidades associadas ao transtorno.
Entre os principais tipos de transtornos de personalidade encontram-se as seguintes: esquizotípica, limítrofe, antissocial, narcisista, esquiva e obsessivo-compulsiva. Os autores apontam que a epidemiologia do transtorno de personalidade é pouco descrita em comparação com outros transtornos mentais, o que pode ter como causa a dificuldade de avaliação. Uma das principais dificuldades para avaliação do transtorno consiste no fato que muitas pessoas com transtornos de personalidade não reconhecem que elas, e não outras, são deficientes em suas relações interpessoais. Geralmente, uma consequência dessa dificuldade no diagnóstico é a tendência da classificação se tornar complexa, de modo que seu diagnóstico se torna restrito apenas para poucos profissionais.
Outro ponto que merece destaque é o alto custo com transtornos de personalidade, especialmente aqueles transtornos de personalidade graves, no qual os pacientes muitas vezes representam um risco para si e para outras pessoas, e necessitam de cuidados institucionais frequentes. Os autores narram que os pacientes que são diagnosticados quase sempre recebem as categorias de borderline, antissocial ou outras categorias não especificadas. Isso expõe a natureza complexa do sistema de diagnóstico, o que faz, segundo os autores, com que poucos profissionais avaliem o status da personalidade em todos os seus componentes, limitando ainda mais o diagnóstico completo e acertado.
Enfim, o artigo ora resenhado mostra a presença de fatores que possuem uma visão limitada, em que aquelas pessoas que se automutilam recebem automaticamente um diagnóstico de transtorno de personalidade limítrofe e aquelas que são agressivas e têm um histórico de comportamento inadequado recebem um diagnóstico de transtorno de personalidade antissocial, independentemente do problema em si e de sua complexidade. A psicologia da saúde pode auxiliar neste contexto auxiliando em possibilidades que tornem a avaliação dos distúrbios de personalidade mais eficazes, como a criação de instrumentos rápidos e confiáveis, além de direcionar os atendimentos por meio de programas de acolhimento, tratamento e reinserção social e familiar.

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